Nas proximidades das comemorações alusivas ao Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março, uma reflexão ganha espaço. Qual o papel das mulheres no meio rural, enquanto empreendedoras e responsáveis pelas unidades produtivas.
Para a engenheira agrônoma e extensionista rural da Emater-RN, Grasiela Barbosa, as mulheres têm uma função fundamental na agroecologia, que por natureza estimula a participação familiar e, por isso, trazer visibilidade ao trabalho feminino.
Um exemplo é o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar, que passou a aumentar essa participação feminina desde o ano passado, quando foi iniciado no Rio Grande do Norte. “Para um empreendimento rural ser sustentável, ele precisa ser socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente correto”, ressalta a extensionista rural, que atua na Emater no município de Baraúnas.
Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE, de 2017, no Rio Grande do Norte, entre 15 e 20% dos estabelecimentos são mantidos por mulheres. No Brasil, o universo da agricultura familiar ainda é, em sua maioria, masculino, com 18,7% mulheres. Cerca de 20% dos empreendimentos rurais são dirigidos por casais.
Quando observado o tamanho dessas unidades produtivas, as mulheres são responsáveis por empreendimentos menores. Propriedades rurais a partir de 1 hectare estão, em sua maioria, sob responsabilidade dos homens.
Para Grasiela Barbosa, a agricultura familiar passa por um momento de “transição de pensamentos e relações internas”, já que a própria agroecologia traz um novo paradigma, que desafia os meios convencionais de produção. “A inclusão de mulheres neste processo enriquece, aprimora e expande as organizações. Valorizar o trabalho e inclusão das mulheres, partilhando responsabilidades e o lucro obtido nas atividades, agrega valor ao trabalho rural e ganha força competitiva, capaz de conduzir ao sucesso e sobrevivência com qualidade de vida o empreendimento rural”, colocou a extensionista da Emater-RN.
MAIS AUTONOMIA
Para a agricultura Elisângela Abreu, do município de Baraúna, recorda que alguns anos atrás, era o marido quem estava à frente de todas as decisões relacionadas à unidade produtiva da família e que sequer opinava sobre as atividades realizadas.
Mas esse cenário mudou após ela ser inserida em alguns programas executados pela Emater-RN, entre eles o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar e nos mercados institucionais, como o Programa Alimenta Brasil (PAB) – Compra Direta e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
“O que ele vendia, tratava diretamente com os atravessadores. Eu nem via o dinheiro entrar e não sabia o que se produzia. Agora, eu tenho tido a oportunidade de participar. Vou para as reuniões, anoto as entregas feitas e recebo na minha conta corrente os pagamentos dos programas. Trabalhar junto é muito melhor. Agora que já entendo como funciona tudo, penso que podemos organizar melhor a produção”.
A agricultora Antônia Dorotéia, também de Baraúna, ressalta o trabalho de inserção das mulheres realizado pela Emater, através da própria história de vida. Antes acostumada a debulhar o feijão verde à mão, plantado em uma unidade familiar compartilhado com o marido, onde também mantém o plantio de macaxeira, Antônia comemora o fato de ter adquirido meios para comprar uma máquina quem auxiliasse no serviço. Hoje, ela comemora o aumento de renda e da sua autonomia enquanto cidadã.
“Quando a Emater nos cadastrou no Programa Compra Direta e no Pnae começamos a fazer as entregas semanalmente e, ao final de cada mês, recebíamos o dinheiro acumulado. Dessa forma, pudemos juntar e fazer a aquisição de uma máquina debulhadora de feijão verde. A partir disso, aprendi também a usar o aplicativo do banco, fazer transferências e a usar o cartão de crédito”, finaliza.