O Rio Grande do Norte produz anualmente em torno de 1,3 milhão de toneladas de resíduos sólidos recuperáveis, mas a taxa média de recuperação efetiva é de apenas 1,72%, correspondente a 22 mil toneladas/ano. Em Mossoró e Natal, recupera menos de 1%
Da Redação do Jornal de Fato
O Rio Grande do Norte produz anualmente em torno de 1,3 milhão de toneladas de resíduos sólidos recuperáveis, segundo o Ministério das Cidades, equivalentes a 1,03 kg/habitante/dia (Painel SNIS, referência 2022). Mas a taxa média de recuperação efetiva é de apenas 1,72%, correspondente a 22 mil toneladas/ano.
Segundo a mesma fonte, os maiores índices de reaproveitamento são registrados nos municípios de Currais Novos (36%), Jardim de Piranhas (19%), Brejinho (15%), Arês (9%), Cerro Corá e Frutuoso Gomes (7%). Por outro lado, menos de 1% é recuperado em Natal e Mossoró, exatamente as localidades mais populosas e as que mais produzem resíduos.
De acordo com depoimento do presidente do Sindirecicla-RN, Etelvino Patrício de Medeiros, o estado dispõe de 42 indústrias de reciclagem que trabalham com materiais, como alumínio, cobre e bronze, plásticos, papelão, vidros e óleo vegetal usado, além de três usinas de reutilização de entulhos de obras da construção civil. O estado também exporta resíduos de ferro e de componentes eletrônicos.
Mas a transição para uma economia circular envolve desafios. O principal deles deve ser desenvolver ações e integrar cadeias de produção e consumo em um prazo de cinco anos em todo o país de maneira a atingir as taxas propostas de aumento de reciclagem de resíduos sólidos urbanos e de redução de resíduos industriais, conforme firmado no Planec.
Depoimentos de agentes envolvidos com a agenda ESG, convergem no sentido de que um dos principais desafios é a conscientização de consumidores e empresas sobre os benefícios da economia circular, além de chamarem a atenção para a necessidade de implantação de uma infraestrutura adequada para a coleta, triagem e reciclagem de resíduos, de uma política de financiamento e a criação de um marco regulatório que incentivem as empresas a aderirem às práticas de circularidade.
A Sondagem Especial do RN: Economia Circular e a Indústria Potiguar, realizada entre os dias 3 e 12 de fevereiro de 2025 pela CNI e FIERN, teve como objetivo principal sondar práticas adotadas, barreiras enfrentadas e oportunidades vislumbradas para o avanço da economia circular no Rio Grande do Norte, com base na percepção de empresas dos segmentos Extrativo, de Transformação e da Construção.
De acordo com os resultados, 67% das empresas industriais do Rio Grande do Norte consultadas que desenvolvem práticas de economia circular acreditam que estas contribuem para redução das emissões de gases de efeito estufa (a média nacional é de 58%). A reciclagem de produtos, adotada por 33% das empresas, é a prática mais comum.
O principal benefício esperado pelas indústrias que aderem à circularidade é o estímulo à inovação de produtos, processos e serviços. A Sondagem captou que as avaliações das empresas potiguares estão mais ou menos divididas sobre se as atuais regulamentações educacionais incentivam ou dificultam a adoção de modalidades de economia circular.
Entretanto, a ausência de qualificação técnica dos colaboradores é considerada como a principal barreira interna à implantação dessas práticas nas empresas; outras barreiras realçadas são a falta de estratégias para engajar os consumidores sobre os benefícios da economia circular, assim como a própria ausência de conhecimento dos consumidores acerca do tema. Parte significativa das indústrias também avalia que as regulamentações tributárias e econômicas atuais, além do nível elevado dos juros, dificultam a implementação de práticas de economia circular.
Quanto à indagação sobre as principais medidas econômicas que o governo deveria tomar para apoiar a transição das empresas para um modelo econômico circular, as respondentes potiguares destacaram duas, quais sejam, oferta de incentivos financeiros para a criação de infraestruturas de reciclagem e logística reversa e oferta de incentivos para projetos de inovação em circularidade.
Principais resultados
– 67% das empresas industriais potiguares que desenvolvem práticas de economia circular acreditam que estas contribuem para redução das emissões de gases de efeito estufa;
– 33% garantem ou realizam a reciclagem do produto – prática mais adotada pelas indústrias do estado;
– 42% consideram que o estímulo à inovação de produtos, processos e serviços é um dos principais benefícios esperados ao adotar práticas de economia circular;
– 33% consideram a ausência de qualificação técnica dos colaboradores como uma barreira à adoção de práticas de circularidade em suas empresas;
– 25% consideram que o nível elevado dos juros do financiamento são uma barreira à adoção de práticas de circularidade em suas empresas;
– 55% consideram que as regulamentações tributárias atuais dificultam a implementação de práticas de economia circular;
– 42% consideram que as regulamentações econômicas atuais dificultam a implementação de práticas de economia circular;
– 50% defendem a oferta de incentivos financeiros para a criação de infraestruturas de reciclagem e logística reversa como a principal medida econômica que o governo deveria adotar visando à transição das empresas para um modelo de economia circular;
Brasil visa alcançar a neutralidade climática até 2050
O Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) do mundo. Em 2023, o país foi responsável por 3,1% das emissões globais, ficando atrás da China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Indonésia. Mas uma particularidade que o diferencia do restante do grupo é o fato de a principal fonte emissora de GEE ser originada pelo desmatamento das matas nativas, enquanto nos demais são os setores de energia, indústria e transporte.
Ou seja, o uso da terra, mudança no uso da terra e florestas – LULUCF (da sigla em inglês land use, land use change and forestry) responde por 50% das emissões de CO2 do Brasil, a agricultura responde por cerca de 25%; por sua vez, as emissões combinadas da indústria de transformação, transporte e geração de energia totalizam 20%, enquanto os 5% restantes são provenientes dos resíduos.
O Brasil tem como meta alcançar a neutralidade climática até 2050. Na COP 29, realizada em Baku, em novembro de 2024, o país anunciou a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), assumindo o compromisso de redução das emissões líquidas de GEE de 59% a 67% até 2035, tomando como base o ano de 2005.
No que diz respeito, especificamente, aos resíduos sólidos, como parte da estratégia para a redução de emissões de GEE, países desenvolvidos e em desenvolvimento estão se movendo em direção a um novo padrão de produção e consumo, que demandará o uso mais inteligente dos recursos naturais. Trata-se da transição de um modelo baseado no processo de extração, produção, consumo e descarte – para uma economia circular – que envolve a otimização das cadeias produtivas por meio da reciclagem, remanufatura, reutilização, compartilhamento, manutenção e redesenho dos produtos, com potencial de criar valor para as empresas.
O Plano Nacional de Economia Circular (Planec), aprovado em 8 de maio de 2025 é um desdobramento da Estratégia Nacional de Economia Circular (Enec). O Planec visa aumentar a taxa de reciclagem de resíduos sólidos urbanos para 50% até 2030 e reduzir em 30% a geração de resíduos industriais de risco até o mesmo ano. Prevê, ainda, a reutilização de 40% da água em processos industriais até o fim da década e o incentivo à adoção de práticas de economia circular em 100% das empresas de grande porte até 2035.