O Rio Grande do Norte tem enfrentado um cenário de crescimento alarmante de casos de esporotricose felina, com um total de 4.012 casos registrados em humanos e animais em 2025, em 44 municípios. Os dados foram revelados pelo Painel Epidemiológico da Esporotricose, uma iniciativa do Centro de Inteligência Estratégica para Gestão Estadual do SUS (CIEGES/RN), desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A notificação da doença tornou-se obrigatória em abril deste ano e os estados passaram a fazer o controle dos novos casos. Hoje, segundo o Ministério da Saúde, a doença já está presente em 26 estados brasileiros. A doença é causada por fungos do gênero Sporothrix, que afetam principalmente gatos e que pode ser transmitida para humanos.
Os gatos de rua são de difícil controle e disseminam de forma rápida a doença. “É um grave problema de saúde pública. Para se ter uma ideia, o fungo já se tropicalizou e gerou uma espécie 100% nacional, a Sporothrix brasiliensis, que é muito mais transmissível e já está se espalhando para fora do Brasil”, explica o professor titular de medicina-veterinária da UNIP, Carlos Brunner.
Brunner é um dos maiores especialistas no uso de pulsos elétricos no tratamento de doenças. Ele é precursor da eletroquimioterapia no Brasil e um dos fundadores da Akko Health Devices, desenvolvedora de soluções em tratamentos com eletroquimioterapia para medicina humana e medicina veterinária. Há quase duas décadas, ele estuda os efeitos da técnica no tratamento de diversas doenças, entre elas a esporotricose, e desenvolveu um equipamento inédito que está sendo usado em clínicas veterinárias e em Universidades, caso da PUC de Curitiba e da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
“A esporotricose é infecciosa e agressiva. Os gatos são as principais vítimas e os potenciais transmissores. Ela causa lesões cutâneas que podem começar como pequenos caroços (nódulos) e evoluir para úlceras abertas e com secreção. Essas feridas não cicatrizam facilmente e costumam espalhar-se pelo corpo. O tratamento com antifúngico é demorado e muitas vezes não traz os resultados esperados”, explica Brunner.
A transmissão da esporotricose para humanos é feita por meio do contato com o animal infectado. Os arranhões são a principal porta de entrada. A lesão ocorre geralmente nas mãos, braços, rosto ou pernas e começa como um nódulo avermelhado e firme. Depois, evolui para uma ferida ulcerada, que pode drenar pus. Ela não causa dor, mas demora para cicatrizar. O problema é que a infecção se espalha pelos vasos linfáticos e quando encontra uma pessoa com o sistema imunológico comprometido (caso dos imunossuprimidos) ela pode atingir ossos, pulmões, olhos e até o sistema nervoso central, levando à morte.
Nova técnica de tratamento
O fungo da esporotricose ataca as células da pele, se reproduzindo no tecido e matando essas células. “O que fizemos foi desenvolver um equipamento capaz de criar mais poros na pele e por meio deles combater o fungo”, Explica Brunner. O equipamento Sporo Pulse, fabricado pela empresa brasileira Akko Health Devices, tem sido usado com sucesso no tratamento da doença.
“Como não usamos medicação, as células da pele do gato permanecem vivas, porque os poros se formam e se fecham. Já a estrutura celular dos fungos é diferente, então os poros se formam e não se fecham mais, matando o fungo. Como trabalho com eletroporação há 18 anos pensei na possibilidade de provocar a formação dos poros irreversíveis nos fungos, devido suas características celulares. Ou seja, matando o fungo e preservando o tecido normal do gato”, explica o prof. Brunner.
A nova técnica está trazendo esperança para os animais e tutores já que exige menor número de manipulações do gato, menor custo, boa eficácia em animais resistentes à terapia convencional e redução do período de tratamento.
“O fato de termos animais não domiciliados ou que têm acesso à rua reforça a necessidade de um tratamento assertivo e rápido. Os gatos que são agressivos, que têm pouco contato com pessoas, os chamados “ferais”, teriam que ser medicados diariamente por meses, o que é praticamente inviável. Com essa técnica eles podem ser recolhidos, tratados com uma manipulação apenas, ao longo de 3 meses, e estariam 100% curados”, conclui Brunner.
A eutanásia não pode ser considerada uma solução para o controle da doença. Os gatos precisam ser tratados e não podem ser vistos como culpados pela epidemia que estamos vivendo.
O que é
– Uma micose causada por um fungo encontrado no ambiente.
– Acomete tanto humanos quanto animais, sendo os gatos os principais transmissores para humanos.
– É comum em pessoas que trabalham com plantas e solo (jardineiros, por exemplo).
Como é transmitida
– Por animais: Principalmente por arranhões, mordidas ou contato direto com as lesões de gatos infectados.
– Por trauma ambiental: Ao se ferir com espinhos, farpas de madeira ou contato com solo e vegetação contaminados.
Sintomas
Em humanos:
Lesões avermelhadas na pele que podem se ulcerar.
Formação de nódulos ao longo do trajeto do sistema linfático.
É comum afetar braços, mãos e rosto.
Em casos graves, pode afetar pulmões, ossos e articulações.
Em gatos:
Feridas na pele que não cicatrizam, principalmente nas orelhas, focinho e patas.
Inchaço do nariz.
Dificuldade para respirar e espirros com secreção.
Tratamento
O tratamento deve ser prescrito e acompanhado por médico (humano) ou veterinário (animal).
Utilizam-se medicamentos antifúngicos, como o Itraconazol e, em casos mais graves, a Anfotericina B.
É fundamental seguir o tratamento até o fim, mesmo após o desaparecimento dos sintomas, para evitar recidivas e resistência ao medicamento.
Prevenção
Evitar o contato direto com lesões de animais infectados.
Manter os animais de estimação (especialmente gatos) com os devidos cuidados veterinários e não abandonar animais com suspeita da doença.
Utilizar luvas e calçados de segurança ao manusear terra e plantas.
Limpar e tratar qualquer ferida na pele rapidamente.