Blog Ismael Sousa
Era madrugada de segunda para terça-feira quando a idosa Francisca Vieira Peixoto, de 89 anos, deu entrada na UPA do Alto de São Manoel, em Mossoró. Eram 3h40 da manhã. Ela mal conseguia respirar, com forte dispneia, febre alta e sem conseguir urinar.
O plantão ainda estava sob responsabilidade de um colega, que logo chamou o médico Dr. Marcelo Duarte, escalado a partir das 4h. A situação era crítica. Dona Francisca tinha histórico de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e apresentava sinais de EAP (edema agudo de pulmão), além de outras complicações que reduziam suas chances de recuperação.
Marcelo foi franco com a família. Explicou que uma intubação poderia ser mais um risco do que uma salvação. A família, com dor e coragem, aceitou a decisão. Restava confiar no tratamento de suporte e nas medicações administradas pela equipe.
Mas, contra todas as previsões, aconteceu o inesperado. Por volta das 10h da manhã, Francisca começou a reagir. Pouco a pouco, foi retomando a força. Às 19h, já estava sentada, sem oxigênio, sorrindo, rindo e conversando.
O médico lembra do momento com emoção: “Não consigo mensurar minha alegria de vê-la bem. Chegou no meu plantão desenganada, devolvemos sua vida. Disse que chegou quase em coma, sentiu meu cheiro e me chamou de Dr. Cheiroso. Cumpri minha missão”, disse Marcelo, emocionado, ao ver a paciente alegre e fora de risco.
E Francisca, sem recordar do que havia passado, resumiu tudo de forma singela: “Só sentia o seu cheiro”.
Esse é o lado humano da medicina que poucos mostram, feita de cuidado, empatia e dedicação. Naquela noite, em Mossoró, uma paciente voltou a sorrir. E um médico, junto com a equipe da UPA, viu a vida vencer mais uma vez.