Luiz Inácio Lula da Silva volta ao poder máximo do País neste domingo, 1º de janeiro de 2022. Dessa vez, o líder do PT tem a missão não apenas de enfrentar espectros econômicos e sociais, mas, de unir a nação para o Brasil voltar aos trilhos.
Jornal de Fato
Luiz Inácio Lula da Silva volta ao poder máximo do País neste domingo, 1º de janeiro de 2022, doze anos após encerrar seu segundo mandato de presidente da República, exercido entre os anos de 2003 a 2010. Dessa vez, o líder do PT tem a missão não apenas de enfrentar espectros econômicos e sociais, mas, principalmente, de unir a nação para o Brasil voltar aos trilhos.
Lula saiu vitorioso das urnas com vantagem apertadíssima, apenas 1,8% de diferença o presidente Jair Bolsonaro (PL), ou 2.139.645 votos. Foi a disputa presidencial mais acirrada da história, revelando um país dividido entre a esquerda e a direita e pouco interessado de promover a paz.
O discurso da vitória, Lula anunciou que irá governar para os 215 milhões de brasileiros, que buscará o diálogo entre os Poderes e que terá a missão de restaurar a democracia. “Não existe dois brasis, somos uma só nação”, disse. O bolsonarismo não se convenceu. Protestos contra o resultados das urnas se espalharam por todo o Brasil e, na semana que antecede a posse de Lula, os atos se tornaram mais radicais, principalmente em Brasília. Lula vai ter muito trabalho para unir o País.
O ex-torneiro mecânico, de 77 anos, que há duas décadas se tornou o primeiro operário a governar o país, está de voltado em um novo capítulo de uma trajetória singular na política brasileira. A vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro ganhou contornos históricos ao dar uma nova chance ao Partido dos Trabalhadores e à biografia do próprio Lula, que vive um ciclo de reabilitação política e de reinvenção pessoal.
Depois de deixar a Presidência, em 2010, com 87% de aprovação (2010), o petista viu sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), sofrer um processo de impeachment (2016); ficou preso por 580 dias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro (2018-2019); teve as condenações anuladas por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF); e, 1.087 dias depois de deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, tornou-se o primeiro brasileiro da História a ser eleito três vezes para o principal cargo do Executivo.
O petista também impôs a Bolsonaro a inédita derrota de um presidente que concorria à reeleição no cargo. O atual ocupante do Planalto não conseguiu superar a alta rejeição (sempre em torno de 50% ao longo da campanha). A conquista do fundador e principal líder do PT ficou ainda maior porque ele superou um adversário impulsionado pela injeção de bilhões de reais na economia com medidas como o aumento do Auxílio Brasil, o Auxílio Gás e a antecipação do 13º dos aposentados.
Foi a sexta vez que Lula concorreu à Presidência, igualando agora o número de triunfos e derrotas. Em 1989, na primeira eleição direta após a redemocratização, o ex-metalúrgico foi derrotado por Fernando Collor (PRN) no segundo turno por uma diferença de pouco mais de 4 milhões de votos (53% a 47%).
Nos dois pleitos seguintes — primeiro com Aloizio Mercadante (hoje seu coordenador de plano de governo) e depois com Leonel Brizola (PDT) como vice —, foi superado por Fernando Henrique em primeiro turno.
A primeira vitória veio em 2002, superando José Serra (PSDB), seguida de reeleição contra o então tucano Geraldo Alckmin. A partir de 1º de janeiro de 2023, Lula assume o terceiro mandato com o desafio de reestruturar uma economia, com inflação alta e o desafio de reequilibrar contas públicas sem abrir mão de benefícios sociais. Embora possa concorrer à reeleição em 2024, o petista já indicou que não pretende buscar o quarto mandato, o que pode ser um aceno para a chamada terceira via.
Prisão, reviravolta jurídica e combate à corrupção
No terceiro mandato, Lula não terá direito a erros éticos, nem a permitir que os seus aliados cometam atos de corrupção em ministérios. O combate à corrupção deve ser permanente. Essa responsabilidade aumentou bastante quando Lula recebeu uma nova chance a partir de apoios de ex-ministros do STF, como Celso de Mello, Carlos Velloso, Nelson Jobim, Carlos Ayres Brito e Joaquim Barbosa, algoz do PT como relator da ação penal do mensalão.
O debate sobre corrupção, que permeou os ataques e cobranças destinados a Lula ao longo da campanha, deve seguir na pauta da oposição no terceiro mandato. O petista volta ao poder menos de três anos depois de ter ficado 19 meses preso, entre abril de 2018 a novembro de 2019. O ex-torneiro mecânico já havia sido preso 31 dias em 1980, durante a ditadura militar, por liderar uma greve de trabalhadores quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema.
Lula foi preso em 7 de abril de 2018 depois de o ex-juiz Sergio Moro dar ordem de prisão no processo do triplex do Guarujá (SP). Moro e juízes de instâncias superiores concordaram com a acusação do Ministério Público de que Lula teria recebido o imóvel como propina da empreiteira OAS. Foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão, pena depois reduzida a 8 anos e 10 meses.
Lula foi substituído pelo vice, Fernando Haddad, na corrida presidencial de 2018, vencida por Jair Bolsonaro. O ex-presidente foi solto em 8 de novembro de 2019 (580 dias depois) após mudança de entendimento do STF a respeito de prisão com condenação em segunda instância, antes de esgotar outros recursos.
Moro — que deixaria a magistratura para ser ministro da Justiça de Bolsonaro —, foi considerado parcial no julgamento de Lula pelo STF, que também reconheceu o argumento da defesa de Lula de que a vara federal de Curitiba não tinha jurisdição para julgá-lo. Com isso, os processos acabaram anulados.
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Título: Desafios além do PT e de aliados de esquerda
Entre os inúmeros desafios que Lula terá a partir de agora está a manutenção da frente ampla de apoios que ele conseguiu arregimentar ao longo da campanha fora do PT e dos tradicionais aliados de esquerda. Esse arco vai do líder sem teto Guilherme Boulos (PSOL) ao ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (União Brasil), passando pela senadora Simone Tebet (MDB), o PDT de Ciro Gomes e o deputado André Janones (Avante-MG), que se tornou o principal estrategista digital da campanha de Lula.
Apesar de ter prometido fazer um governo de conciliação nacional, para além dos quadros do PT, Lula será obrigado a lidar com interesses e visões de mundo divergentes em vários aspectos. Na formação de seu ministério, o petista enfrentou dificuldades e dias tensos para conciliar os interesses e acomodar partidos que possam garantir a governabilidade no Congresso Nacional.
Partidos como MDB, PSD e União Brasil, liderados por políticos tradicionais, ficaram com pastas importantes na Esplanada dos Ministérios. Lula distribuiu os 37 ministérios a nove partidos, que somam 262 deputados federais (51% da Câmara) e 45 senadores (55% do Senado). Embora nem todos os parlamentares desses partidos devam apoiar o governo, o certo é que Lula terá, a princípio, as condições de governabilidade.
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em Garanhuns (PE) em 27 de outubro de 1945. Aos sete anos, migrou com a família para Santos (SP). Trabalhou em indústrias de metalurgia e foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Liderou greves na região do ABC Paulista durante a ditadura militar e, em 1980, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Lula foi deputado federal por São Paulo (1987-1991) e disputou a Presidência da República por três vezes (1989, 1994 e 1998) até ser eleito (2002) e reeleito (2006). É considerado o presidente com maior aprovação popular da história do país. Os mandatos do petista foram marcados por crescimento econômico e ascensão social de boa parte da população.
Lula foi casado com Maria de Lourdes da Silva e com Marisa Letícia Lula da Silva, tendo ficado viúvo dos dois casamentos. Pai de cinco filhos, atualmente é casado com a socióloga Rosângela da Silva, a Janja.
O Vice-presidente
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho (PSB) nasceu em Pindamonhangaba (SP), em 7 de novembro de 1952. É médico anestesista e professor. Começou a carreira política em 1973, quando assumiu o cargo de vereador na cidade natal.
Entre 1977 e 1982, foi prefeito de Pindamonhangaba. Ele também assumiu mandatos de deputado estadual (1983-1987) e deputado federal (1987-1995). Alckmin foi governador de São Paulo por dois períodos: de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018, sendo o político que por mais tempo comandou o governo paulista desde a redemocratização do Brasil.
Ele tentou a Presidência da República em 2006 e 2018, mas não chegou a ser eleito. Em março de 2022, migrou do PSDB para o PSB, para ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula.
Alckmin é casado desde 1979 com Maria Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, mais conhecida como Lu Alckmin. O casal teve três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz. Este último morreu em um acidente de helicóptero, em abril de 2015.