Vice-líder do governo Lula no Senado, Zenaide Maia se afasta da governadora Fátima Bezerra e do lulismo no Rio Grande do Norte, para firmar aliança com o pré-candidato a governador Allyson Bezerra, que é adversário do grupo do presidente Lula no RN
Da Redação do Jornal de Fato
Natal, 4 de setembro de 2025, o Rio Grande do Norte recebeu a “Caravana Federativa” do presidente Lula (PT) com a estrutura de mais de uma dezena de ministérios e órgãos federais para reforçar as políticas públicas do governo no Estado. A governadora Fátima Bezerra (PT) recepcionou as ministras Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Márcia Lopes (Mulheres) e todos os apoiadores de Lula que estarão juntos nas eleições 2026.
No mesmo momento, a senadora Zenaide Maia (PSD), vice-líder do governo Lula no Senado, desviou a sua agenda para a região Oeste do estado, cumprindo atividades político-eleitorais em Pau dos Ferros, com a prefeita Marianna Almeida (PSD), e em Mossoró, com o prefeito Allyson Bezerra (União Brasil). Ao ignorar a Caravana Federativa, Zenaide deixou claro que não caminhará com a governadora Fátima nas eleições 2026.

Caravana Federativa de Lula estava em Natal sem a presença de Zenaide Maia
Existe, nesse momento, um rompimento “frio” em que Zenaide e Fátima não assumem de público, cumprindo a estratégia de assumir posição somente no ano eleitoral. No entanto, nos bastidores, o divórcio político está estabelecido.
Eleita senadora em 2013, no palanque da esquerda, quatro anos depois de ter sido eleita deputada federal no palanque da direita, Zenaide Maia ganhou espaço nos governos de Fátima e de Lula. Entre 2019 a 2024, o seu esposo Jaime Calado (PSD) foi secretário do Desenvolvimento Econômico, só deixando o cargo para disputar e ser eleito prefeito de São Gonçalo do Amarante. Em Brasília, Zenaide ganhou prestígio no Palácio Central e foi escolhida uma das vice-líderes do governo no Senado. Por gravidade, encontrou facilidades para liberar emendas parlamentares que alimentam a sua base eleitoral e conseguir favores nas mais diversas repartições do Governo Federal.
São essas facilidades do governo que retardam o anúncio de rompimento político. Zenaide Maia precisa da estrutura para continuar atendendo prefeitos e lideranças regionais que gravitam em torno do seu projeto eleitoral. Dentre eles, o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, que criou uma agenda para inaugurar ou visitar pequenas obras que foram construídas com emendas da senadora.
Aliança
Só que Allyson é o motivo principal do afastamento de Zenaide do governo Fátima Bezerra. A senadora apoia a pré-candidatura de Allyson ao governo do Estado e, em contrapartida, Allyson anunciou que será o “cabo-eleitoral” de Zenaide, que buscará a reeleição em 2026.
“Me deram esse tênis azul e eu disse o seguinte: eu vou usar ele no meu primeiro evento ao lado da senadora Zenaide. E depois, eu vou usar ele todas as vezes que a gente for rodar pelo Rio Grande do Norte, defendendo o nome da senadora Zenaide. Eu não largo os meus amigos pela facilidade”, disse Allyson em evento ao lado da senadora.
A partir daí, Zenaide e Allyson passaram a cumprir agenda juntos uma vez por semana, seja em Mossoró ou em outra cidade do interior do estado. A dobradinha da senadora candidata à reeleição e do prefeito candidato a governador está consolidada.
Dessa forma, Zenaide segue com Lula em Brasília, mas divorciada do governo Lula no Rio Grande do Norte. Ela será a principal adversária da governadora Fátima Bezerra na disputa pelo Senado nas eleições 2026.
Rompimento começa nas eleições de São Gonçalo do Amarante
Jaime Calado, esposo de Zenaide Maia, derrotou candidato do PT em São Gonçalo do Amarante
A indigestão política entre a senadora Zenaide Maia e a governadora Fátima Bezerra tem origem nas eleições para o cargo de prefeito da cidade de São Gonçalo do Amarante em 2024. O esposo de Zenaide, Jaime Calado, derrotou nas urnas o então prefeito Eraldo Paiva, do PT, apoiado pela governadora.
A disputa foi acirrada no quarto maior colégio eleitoral do Rio Grande do Norte, localizado na região metropolitana de Natal, e deixou sequelas. Jaime Calado, eleito com 53,14% dos votos válidos, reclamou da interferência do governo nas eleições, entendendo que ele também era aliado político da governadora.
Passadas as eleições, Calado assumiu postura de adversário do PT, e foi ele que primeiro defendeu o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, para disputar o cargo de governador do RN nas eleições 2026, em detrimento do nome governista Carlos Eduardo Xavier, o Cadu Xavier (PT). A partir daí, a senadora Zenaide passou a cumprir agenda com Allyson e, por gravidade, evitou agenda do governo Fátima.
Jaime Calado é liderança forte em São Gonçalo do Amarante. Ele acumula vitórias eleitorais seguidas nas últimas duas décadas, elegendo-se prefeito e elegendo o sucessor.
Nas eleições de 2024, ele foi eleito com 31.917 votos (53,14%), derrotando Eraldo Paiva que obteve 23.205 votos (38,64%). Ainda foi votada a candidata Gabi Trajado (Avante), que recebeu 4.939 votos (8,22%).
MDB reafirma apoia a Cadu Xavier e Fátima Bezerra
O ex-governador e ex-senador Garibaldi Filho tratou de acabar com a especulação sobre a relação entre o MDB, do vice-governador Walter Alves, e o PT, da governadora Fátima Bezerra. Em evento político do Partido dos Trabalhadores, em Natal, Garibaldi afirmou que as duas legendas vão repetir a aliança vitoriosa em 2022 nas eleições estaduais de 2026.
“Estamos prontos para apoiar o nosso Cadu a governador”, anunciou ao se referir à pré-candidatura de Carlos Eduardo Xavier, o Cadu Xavier (PT), atual secretário estadual da Fazenda, à governadora do Rio Grande do Norte. A fala de Garibaldi foi testemunhada pela governadora Fátima e pelas ministras Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Márcia Lopes (Mulheres), além da cúpula estadual do PT, em evento realizado em Natal na quinta-feira, 4.
Garibaldi Filho também reafirmou que o MDB apoiará Fátima Bezerra para o Senado e que o partido deve participar da chapa majoritária, podendo indicar um nome para vice-governador ou o segundo nome para o Senado.

Ex-governador e ex-senador Garibaldi Filho fez anúncio em evento do PT em Natal
A fala do ex-governador emedebista foi aplaudida pela militância do PT, uma vez que havia, de certa forma, dúvida sobre a postura do MDB em relação ao pleito estadual de 2026. Garibaldi Filho, no entanto, repetiu o que Walter Alves havia dito no início do ano, que não seria candidato nas próximas eleições e que apoiaria a postulação de Cadu Xavier para o governo.
Titular
Em fevereiro deste ano, durante entrevista em Natal, Walter Alves confirmou que assumirá o governo em abril de 2026, com a desincompatibilização de Fátima Bezerra para ser candidata ao Senado, mas não deseja exercer o direito à reeleição. Ele disse que não será candidato a nada e que a sua missão será organizar chapa competitiva do MDB para cargos proporcionais, com prioridade à Assembleia Legislativa.
Walter fez elogios a Cadu Xavier, afirmando que o atual titular da Fazenda é um técnico com capacidade e que tem competência de conduzir os destinos do Rio Grande do Norte, sequenciando a gestão de Fátima Bezerra.
Após a entrevista de Walter, a governadora confirmou que vai transferir o cargo para o vice-governador e que a aliança com o MDB está fortalecida com vista às eleições 2026. “O PT está unido em torno do nome de Carlos Eduardo Xavier como opção para o governo, e tem o apoio do vice-governador Walter Alves, que disse que não vai para a reeleição!”, disse a governadora em entrevista recente.
O ponto mais importante da parceria entre Fátima e Walter está justamente no projeto político-eleitoral da governadora para 2026. Ela será candidata ao Senado e, para isso, terá que renunciar ao cargo até o início de abril de 2026, para cumprir a legislação eleitoral. Por gravidade, o vice-governador assumirá o Governo do Estado.

Governadora Fátima Bezerra e o vice-governador Walter Alves nas eleições 2022
Transição no governo foi antecipada para acomodar o MDB
A relação de confiança entre a governadora Fátima Bezerra e o vice-governador Walter Alves permite a antecipação do processo de transferência de governo, iniciado em agosto passado. O MDB de Walter assumiu quatro pastas do primeiro escalão do Estado, com os novos escolhidos pelo próprio vice-governador.
Destaque para o comando da Companhia de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN). Walter Alves emplacou o engenheiro civil Sérgio Eduardo Rodrigues da Silva no cargo de diretor-presidente da empresa, substituindo Roberto Sérgio Linhares, que estava na Caern desde janeiro de 2019.
O MDB emplacou o ex-prefeito de Apodi, Alan Silveira, no cargo de secretário do Desenvolvimento Econômico, além do ex-prefeito de Lagoa Nova e ex-presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (FEMURN), Luciano Santos, na Secretaria Extraordinária de Assuntos Federativos; e Dácio Galvão, ex-secretário de Cultura de Natal, ex-presidente da Fundação Cultural Hélio Galvão e da Fundação Capitania das Artes, como novo Subsecretário de Turismo do RN.
O partido de Walter Alves vai ocupar mais espaços no início de 2026, quando Walter Alves indicará nomes de sua confiança para setores vitais do governo. O argumento é que ele precisa antecipar o processo para, quando assumir o governo, em abril, ter melhores condições de governar o estado.
Governo do RN deverá ser disputado por três candidatos

Senador Rogério Marinho é pré-candidato a governador com apoio da direita bolsonarista
O senador Rogério Marinho (PL) nega que o seu nome esteja cogitado para chapa presidencial e que o seu foco eleitoral será na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte. Líder da oposição ao governo Lula no Senado Federal, Marinho trabalha para fortalecer a sua pré-candidatura a governador, com base no enfrentamento ao governo do PT.
Rogério Marinho divide a oposição no RN com o prefeito de Mossoró Allyson Bezerra, que é pré-candidato a governador pela federação União Progressista. Ele caminha junto ao senador Styvenson Valentim (PSDB), que buscará a reeleição, e ao ex-prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), que pode ser o segundo candidato ao Senado.
O líder bolsonarista também conta com apoio de parte do União Brasil, que não segue a pré-candidatura de Allyson. São os casos do prefeito de Natal, Paulinho Freire, e da deputada federal Carla Dickson, aliados de Rogério Marinho.
Essa divisão se torna ainda maior porque parte do União Brasil e do Progressistas não aceita apoiar a senadora Zenaide Maia, do PSD, aliada de Allyson Bezerra. Recentemente, numa reunião do União Brasil, essa posição foi externada, mas não convenceu Allyson, que continua afirmando que não abre mão da aliança com Zenaide Maia.
Dessa forma, a disputa pelo Governo do Estado se apresenta com três pré-candidatos: Cadu Xavier, representante da esquerda; Rogério Marinho, pela direita bolsonarista; e Allyson Bezerra em via alternativa.