O ouro olímpico de Ítalo Ferreira é uma derrota imensa para a imprensa sudestina e sua tradicional xenofobia. Não vou prolongar o comentário porque a ideia é ser breve, afinal, na história que está por trás dessa conquista, há muitas nuanças possíveis de abordagem e a saga de Ítalo já é conhecida de boa parte dos potiguares ou dos que acompanham o surfe. Quem não conhece, tomará ciência depois da vitória. A mídia está na obrigação moral de contá-la. Quero apenas replicar o que já havia dito em meu Instagram com alguns acréscimos.
A fé, família e foco certamente o deixam, felizmente e de algum modo, à margem dos negacionismos que vemos aqui fora. Mas é importante dizer. Não é preciso entender de Surf pra fazer um simples exercício de observar o tratamento dado a Ítalo pela mídia.
Eles, a mídia viciada e xenofóbica, insistem em vender o Sudeste, o modelo de playboy do Sudeste, a publicidade do Sudeste como padrão! Como sempre fizeram. Porém, adaptando um pensamento de Bourdieu sobre a televisão e aqui estendendo à mídia em suas diversas plataformas, à medida que os meios de comunicação são o árbitro do acesso à existência social e política, digo que esse árbitro errou feio porque julgou Medina imbatível e o modelo ideal de campeão que deveríamos cultuar. Só que sobre acesso à existência social Ítalo entende bem, especialmente depois de todos os perrengues porque passou até chegar a Tóquio. Tornar-se o árbitro de si, nesse caso, é uma façanha que o tempo ainda não permite mensurar. É enorme.
Eu “acompanhei” a narrativa todinha esses dias do surf. Me irritava demais por colocarem-no como se estivesse ali como coadjuvante, “esquecendo” o campeão mundial que ele também é.
Claro que temos sudestinos maravilhosos, temos BRASILEIROS maravilhosos.
Mas o maior do mundo é Nordestino. Se lascaram, como diz Gil do Vigor. O maior do mundo é brasileiro, nordestino, potiguar, de Baía Formosa.
A mídia tentou colocar Ítalo e Medina em comparação. São dois gigantes. Mas essa comparação não vem ao caso. Porque lamentar a derrota de Medina na mesma medida do enaltecimento da glória de Ítalo é patético. Porque aqui, assim como Ítalo, nós abraçamos o Brasil inteiro, nós não queremos impor um modelo nem uma separação de país.
A mídia sudestina é obrigada a colocar Ferreira no lugar que é dele: no Olimpo. Além da pequena Rayssa, a fadinha do skate, menina negra lá do Maranhão, aprendam com mais essa lição.
Parabéns e obrigado por nos encher de esperança.
Foto: Instagram de Ítalo creditada como de Jonne Roriz.