Por Amina Costa / Repórter do Jornal de Fato
Conforme o que prevê o Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo cidadão tem direito a uma educação gratuita e de qualidade, do ensino infantil até o ensino superior. Esse é um direito dos cidadãos, é por meio da educação que as crianças podem iniciar o processo de desenvolvimento individual e coletivo.
Embora seja um direito básico, os pais dos alunos da Escola Municipal Professora Celina Guimarães Viana, localizada no bairro Barrocas, afirmam que ele não vem sendo respeitado. Isso ocorre porque o local está em reforma há nove meses e, por esse motivo, os estudantes não estão tendo aulas presenciais.
A cabeleireira Jacqueline Carla conversou com a reportagem do JORNAL DE FATO sobre esse assunto e demonstrou a sua indignação com a situação atual dos alunos, afirmando que os estudantes estão sendo totalmente prejudicados. Ela é mãe de Emanuel, aluno do 6º ano, e de Estela, aluna do 1º ano, ambos matriculados na Escola Municipal Celina Guimarães.
Jacqueline Carla informou que os filhos e os demais alunos da escola só tiveram duas semanas de aulas presenciais. “Eles só tiveram as duas primeiras semanas de aulas. Depois, foi feita uma reunião com nós, pais, para dizer que ia ter a reforma, que era a troca do telhado e os ajustes na instalação elétrica. Disseram que o prazo para concluir era de 3 meses, mas a reforma já dura 9 meses”, relatou.
A cabeleireira se mostrou muito indignada diante da falta de respostas por parte da direção da escola. “Já que sabiam que a reforma não ia terminar dentro do prazo, deveriam ter realocado as crianças para outras escolas. Tenho certeza que em Mossoró devem ter escolas que recebam os alunos. Mas, já estamos no final do ano e nada de aulas presenciais. Segundo a Constituição, toda criança tem o direito a ir para a escola, mas no município de Mossoró, infelizmente, isso não está acontecendo”, comentou.
A mãe dos dois alunos fala que a falta das aulas presenciais tem dificultado o rendimento escolar deles, já que as aulas on-line ocorrem, apenas, uma vez por semana e têm duração de uma hora. “Nos outros dias, a professora envia pelo grupo de WhatsApp as atividades que as crianças devem fazer. Sem contar que, quando tem aula on-line, são pouquíssimos os alunos que participam, porque nem todos podem ter o auxílio dos pais. Já ocorreram situações em que só a minha filha estava assistindo a aula on-line”, informou.
Jacqueline Carla explica que essa situação é muito frustrante e que, se a escola tivesse informado que não teria prazo para concluir a reforma, teria buscado outra escola para os filhos. “Primeiro, eles disseram que voltaria em julho, depois em agosto. Já estamos em novembro e nada. Se tivessem dito que não tinha retorno, eu tinha buscado outra escola para os meus filhos. Estela está no 1º ano, acabou de sair de uma UEI, mas não tem sequer o direito de aprender a ler porque não está tendo aula”, falou.
“Minha indignação é que, se eu soubesse que esse ano não teria aula presencial, não teria colocado eles pra estudar lá. Eu acho que é falta de informação e de respeito, pois eles (a direção) não foram honestos com os pais. Era pra ter dito que não tinham condição de ter aula. Vai chegar o final do ano letivo, todo mundo vai passar de ano porque não vão reprovar. Mas o conhecimento fica onde?”, questionou a cabeleireira.
Aulas on-line mudaram a rotina dos pais dos alunos
No que diz respeito ao suporte com as aulas on-line e com as atividades que as professoras passam diariamente para os alunos, a cabeleireira Jacqueline Carla explica que esse tem sido um grande desafio, tanto em relação ao tempo quanto aos equipamentos. Ela comenta que teve que reorganizar a rotina para poder dar assistência aos filhos, especialmente à mais nova.
“Eu sou cabeleireira e passo o dia inteiro trabalhando. Por eles estarem sem aula, eu tive que reorganizar a minha rotina para incluir as aulas on-line e as atividades que as professoras passam, principalmente com a mais nova. Tive até que comprar outro telefone, porque o meu era dividido para 3, já que, além das aulas deles, eu também preciso responder as minhas clientes”.
Jacqueline falou ainda que, apesar da correria, ela está conseguindo administrar a rotina dos filhos em casa, mas tem muitas mães que não conseguem. “Tem muitos pais que passam o dia fora e contam com a escola como apoio para deixar os filhos. Tem também os alunos que ficam com os avós, que não sabem nem mexer num telefone direito. Eles deveriam ter mais empatia com o povo. Como é que essas crianças vão conseguir aprender alguma coisa?”, questiona.
Prefeitura ainda não deu previsão para a conclusão da reforma
No mês de agosto, o prefeito Allyson Bezerra visitou a Escola Municipal Professora Celina Guimarães Viana, localizada no bairro Barrocas, que passa por reforma desde o mês de março. Na ocasião, a informação divulgada foi de que as obras estavam avançadas e que, em breve, a escola seria entregue à população.
No entanto, três meses após a visita do prefeito ao local, as obras continuam, sem que haja nenhuma previsão de entrega. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, as obras contemplam revisão elétrica, hidráulica e de cobertura, descupinização, pintura, revisão de esquadrias de madeira e de ferro, substituição de portas e acessibilidade.
Para a cabeleireira Jacqueline Carla, as obras deveriam ter ocorrido durante as férias escolares. “Não faz sentido começar uma reforma numa escola duas semanas após o início das aulas. Poderiam ter feito nas férias escolares, sem prejudicar ninguém”, disse a cabeleireira, informando que, por algumas semanas, as obras ficaram completamente paradas, sem trabalhadores no local.