César Santos
O prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) chegou ao Centro Administrativo, com chapeuzinho de couro na cabeça, pronto para discurso político na mobilização dos gestores municipais contra o Governo do Estado. Momento ideal para ele ensaiar o seu palanque estadual.
Mas, Allyson foi surpreendido. Representantes dos servidores públicos promoveram uma recepção dura, contundente, acompanhada de vaias que ecoaram por todo Rio Grande do Norte, via vídeos gravados e distribuídos nas redes sociais.
Os manifestantes não economizaram nas críticas:
“Prefeito Pinóquio”; “perseguidor dos servidores”; “prefeito mentiroso”; “enganador dos mossoroenses”; e por aí vai.
Os representantes dos servidores públicos estavam com o grito entalado na garganta desde que Allyson Bezerra, com ajuda de sua bancada na Câmara Municipal, decidiu retirar direitos consagrados das categorias. A população mossoroense acompanhou um verdadeiro massacre ocorrido no início deste mês, com servidores chorando, outros desesperados e todos revoltados.
A revolta exposta nesta terça-feira, 25, no Centro Administrativo, é a mesma manifestada em Mossoró, só que por essas bandas o prefeito anda com uma numerosa claque, devidamente atendida em cargos comissionados e terceirizadas, e tem o apoio de grande parcela da mídia para abafar o grito dos servidores. Ele teria atenuado os efeitos em Natal se tivesse levado os “soldadinhos de chumbo”.
O fato é que a relação do prefeito com o servidor público é a pior possível e a culpa não é das categorias. Desde que assumiu o poder, em 1º de janeiro de 2021, não houve qualquer avanço de melhoria dos servidores. Pelo contrário, só piorou. Veja que as diversas categorias estão sem recomposição salarial há sete anos; os professores não tiveram honrado o direito do reajuste do piso salarial do magistério em 2023; e o massacre se completa com a lei que retirou direitos.
As vaias e os gritos de “prefeito Pinóquio” acabaram ofuscando a mobilização dos gestores municipais. Por gravidade, descortinou uma imagem que estava avançando no estado, de que Mossoró tem um prefeito que gosta do povo e o povo gosta dele. Não resta dúvida que a mídia oficial, ajudada por blogueiros e veículos tradicionais, é competente e vende a imagem de um produto que não existe na prática. No entanto, o episódio de ontem torna frágil o personagem que habita o Palácio da Resistência.
De sorte, Allyson Bezerra não enfrenta uma oposição organizada e/ou atuante. Os grupos que poderiam fazer frente estão encolhidos dentro de casa, sem interesse. Por consequência, as militâncias vão se encolhendo em parte e outras partes expostas ao aliciamento político de quem tem o cofre público ao seu favor.
Melhor para Allyson que, no país de Mossoró, segue absoluto, com peito estufado de vaidade. Faz lembrar o personagem Reizinho, interpretado pelo gênio Jô Soares. Pequeno, mas de um ego imenso, o Reizinho se dirigia aos súditos com as palavras: “Deste solo que eu piso, desse povo que eu amo, que que eu sou? Que que eu sou? Que que eu sou?”. Era saudado pelos babões com a resposta: “Sois Rei!”