Enquanto mulheres aguardam por cirurgias, que foram suspensas por falta de pagamento, a Prefeitura de Mossoró já pagou em 2025 mais de R$ 10 milhões só com uma empresa que trabalha com montagem de estrutura para eventos, beneficiando a Samucka
Da Redação do Jornal de Fato
A secretária de Saúde do município de Mossoró, Morgana Dantas, ainda não conseguiu esclarecer a suspensão de exames laboratoriais e cirurgias eletivas que afetam centenas de mossoroenses. Ao Ministério Público Estadual (MPRN), que pediu explicações por meio de uma “nota de fato”, a titular da pasta não conseguiu apresentar argumento que possa ser acolhido.
A suspensão de exames nas três Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) do município foi denunciada pelo Jornal de Fato no início deste mês. A empresa contratada pela gestão Allyson Bezerra (União Brasil) suspendeu os serviços e lacrou os aparelhos, reclamando falta de pagamento. Já as cirurgias eletivas foram suspensas há nove meses devido à falta de pagamento às instituições contratadas como Apamim, mantenedora da Maternidade Almeida Castro.
Nos dois casos, a Secretaria de Saúde se limitou a dizer que os serviços seriam retomados por meio de outros prestadores, mas até agora não há confirmação de atendimento à população, principalmente com relação às cirurgias eletivas.
Festas
A falta de recursos para garantir a assistência à saúde da população, agravada pela longa fila de pacientes que esperam por cirurgia, contrasta ao grande volume de dinheiro público que a gestão Allyson gasta com festas populares.
Nesta semana, o jornalista Magnos Alves, em seu site de notícias, revelou que a Prefeitura de Mossoró já pagou em 2025 mais de R$ 10 milhões só com uma empresa que trabalha com montagem de estrutura para eventos.
“De acordo com dados do Portal da Transparência da Prefeitura de Mossoró, entre janeiro e julho deste ano, a empresa Samucka Primeiro Mundo EIRELI recebeu R$ 10.079.098,48, de um total de R$ 16.672.018,00 empenhados no período, recursos mais que suficientes para realizar milhares de cirurgias e zerar a fila de espera composta por mulheres de todas as idades”, escreveu o jornalista.
“Conforme dados do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP), o Ministério da Saúde paga por R$ 907,93 por uma histerectomia total, a histerectomia subtotal sai por R$ 781,93 e a colpoperineoplastia anterior e posterior por R$ 472,43. Pela tabela do Sistema Único de Saúde, o volume de recursos gastos com a Samucka seria suficiente para fazer 11.101 cirurgias de histerectomia total, 12.890 cirurgias de histerectomia subtotal ou 21.334 cirurgias de colpoperineoplastia anterior e posterior.”
Magnos Alves apurou junto a um hospital particular de Mossoró que o Ministério da Saúde pode conceder um plus que triplica o valor pago por esses procedimentos cirúrgicos, como forma de incentivo aos hospitais. Mesmo assim, os mais de R$ 10 milhões pagos por Allyson à empresa Samucka seriam o bastante para 3.700 cirurgias de histerectomia total, 4.296 histerectomia subtotal ou 7.111 colpoperineoplastia anterior e posterior, com valores por procedimentos elevados pelo gatilho a R$ 2.723,79, R$ 2.345,94 e R$ 1.417,29, respectivamente.
Prefeitura mantém contratos e aditivos milionários com empresa
A reportagem assinada pelo jornalista Magnus Alves apurou no Portal da Transparência que a relação de negócios entre a Prefeitura de Mossoró e a empresa Samucka são bem volumosos:
“Nos 55 meses da gestão Allyson, a Samucka recebeu mais de R$ 42 milhões dos cofres públicos de Mossoró. E tem muito mais a receber. A empresa conta com o valor de R$ 53.385.264,05 empenhado. Deste montante, R$ 46.285.216,55 foram liquidados, R$ 4.108.023,60 retidos e R$ 42.158.507,70 repassados pela Prefeitura de Mossoró. Em média, a Samucka empenhou quase R$ 1 milhão e recebeu mais de R$ 750 mil por mês em 56 meses incompletos da gestão Allyson Bezerra”, noticiou.
E os gastos seguem em alta. O Diário Oficial de Mossoró (DOM) publicou no dia 18 último a prorrogação de um dos muitos contratos da empresa com a Prefeitura. Neste caso, um contrato de R$ 5.811.730,00 com a Secretaria Municipal de Cultura por um prazo de 12 meses.
“Esse contrato foi assinado pela primeira vez em 19/07/2023 com o valor de R$ 4.695.980,00. Antes de completar o primeiro ano, o contrato ganhou um aditivo de 23,76%, em 13/6/2024, no valor de R$ 1.115.750,00, saltando para a conta total de R$ 5.811.730,00. Já com o montante de R$ 5.811.730,00, o contrato foi prorrogado pela primeira vez em 19/7/2024 e novamente no último dia 18.”
Outro contrato milionário da Prefeitura com Samucka foi renovado em 22 de agosto deste ano, desta vez com a Secretaria Municipal de Educação no valor de R$ 1.697.920,00.
Somente neste mês de agosto, a empresa empenhou mais de R$ 2 milhões de um contrato com a Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural, sendo R$ 1.611.467,00 pela “contratação de serviços de montagem e desmontagem de estruturas, com fornecimento de equipe de apoio, incluindo instalação, manutenção e operação de som e iluminação de palcos para realização e promoção de eventos para a 23ª Festa do Bode” e R$ 598.400,00 pela “locação diária de pavilhão em estrutura de box truss Q30”.