Vereador Tony Fernandes está no Cafezinho com César Santos
Tony Fernandes cumpre o primeiro mandato na Câmara Municipal de Mossoró. Eleito em 2020, como parte do grupo do prefeito Allyson Bezerra, abrigado no Solidariedade, ele surgiu no entendimento da nova política, por isso, rompeu relação política com o prefeito quando este se aliou a políticos das chamadas oligarquias. De forma independente, Tony foi candidato a deputado estadual nas eleições 2022. Não se elegeu, porém, saiu fortalecido pela boa votação, principalmente em Mossoró, com 11,77% dos votos válidos, sendo o segundo mais votado na cidade. A partir daí, passou a ser visto como um potencial nome à sucessão municipal de 2024.
No Cafezinho com César Santos, Tony Fernandes não foge da pergunta se pretende ser candidato a prefeito. Ele afirma que um novo grupo político está se formando em Mossoró, sustentado pela resposta que os eleitores deram nas urnas, e que poderá, por consequência, enfrentar a disputa pela segunda maior prefeitura do RN.
Tony Fernandes também afirma que o prefeito Allyson Bezerra sofreu uma derrota histórica com a não eleição de seus candidatos e que, possivelmente, terá repercussão nas próximas eleições municipais. Leia:
O senhor não conseguiu se eleger deputado estadual, mas a sua votação surpreendeu em Mossoró, praticamente empatado com o candidato apoiado pela máquina pública municipal. Qual a avaliação que o senhor faz de sua performance nas urnas?
A avaliação é positiva. Não fomos eleitos, mas saímos das urnas fortalecido. Fizemos uma campanha limpa, com o pé no chão, uma campanha sem compra de votos, sem enganar as pessoas, sem prometer vantagens, como outros candidatos fizeram, principalmente em Mossoró. Sem essas práticas antigas, condenáveis, mostramos apenas que a gente é capaz de fazer a diferença, a exemplo do que já fazemos na Câmara Municipal, com alguns projetos importantes como a lei que proíbe fogos barulhentos, a lei que impede agressores de mulheres assumirem cargos em comissão no município de Mossoró, entre outras ações que nos deixaram em evidência na cidade. Mostramos que tem como fazer esse trabalho sem precisar ficar de joelho para nenhum chefe político.
Quando o senhor fala de práticas antigas que teve que enfrentar, se refere ao uso da máquina pública em prol dos candidatos apoiados pelo prefeito do momento?
Olha, a gente observou realmente uma força desproporcional em várias frentes. A gente via muitos candidatos com megaestrutura de ruas, tivemos que enfrentar isso. Houve muita coisa errada que chegou ao nosso conhecimento. Segundo alguns relatos, houve, sim, crimes eleitorais. Isso não pode continuar acontecendo porque é muito ruim para a democracia. O eleitor precisa e deve ser livre, fazer a sua escolha com consciência, escolher o melhor candidato. As pessoas não podem continuar sendo enganadas por um benefício, isso traz consequências para a vida da população.
O seu desempenho nas urnas de Mossoró sugere a possibilidade de candidatura a prefeito em 2024. Esse projeto é viável? O senhor pretende disputar a sucessão municipal?
Essa pergunta tem se repetido em todas as entrevistas que venho concedendo. Tivemos uma votação expressiva em Mossoró e, por isso, considero normal que o nosso nome seja lembrado para disputar as próximas eleições. Eu costumo dizer que eu tenho mais características para o Legislativo do que para o Executivo, devido a minha atuação de denunciar problemas, buscar soluções. Eu ainda não avaliei o cenário de 2024, estou muito focado na vereança. No entanto, não posso dizer que não serei candidato a prefeito, até porque o futuro dará melhor resposta. No entanto, posso afirmar, agora, que eu estou totalmente concentrado no mandato de vereador, desenvolvendo ações em defesa da população e cumprindo o papel de fiscalizador.
Mas, se as eleições municipais fossem hoje, o senhor seria candidato à reeleição ou candidato a prefeito?
A gente não tem ainda um grupo organizado de oposição ou de independência para construir um projeto eleitoral para 2024. É preciso ouvir outras pessoas que possam e tenham interesse de se envolver nesse processo. Agora, certamente, teremos um grupo organizado. A gente tem vários nomes bons, que inclusive se saíram bem das eleições, como o vereador Pablo Aires, que pode ser uma boa opção. Também Jorge do Rosário, que apesar de não ter sido eleito deputado estadual, teve uma boa votação e tem boas intenções para Mossoró. Então, eu acho que é preciso ouvir todos esses segmentos, todas essas pessoas, no sentido de melhor entendimento sobre a sucessão municipal e, quem sabe, ter um nome forte para a Prefeitura de Mossoró.
O senhor citou Pablo Aires, que obteve boa votação para deputado federal e, apesar de não ter sido eleito, também saiu forte das urnas. É possível projetar um novo grupo na cidade liderado por novos políticos, a partir de uma aliança entre o senhor e Pablo?
Acredito que sim. Pablo Aires é um bom quadro da nova política, faz um excelente trabalho na Câmara Municipal. Nós temos conversado sobre o assunto, no sentido de fortalecer um novo grupo político aqui em Mossoró. Entendemos que há um caminho promissor e vamos buscar pessoas que compartilhem desse mesmo pensamento.
É um trabalho pra unificar as oposições no sentido de enfrentar quem está no poder?
No primeiro momento, o nosso objetivo é organizar um grupo novo. Primeiro, a gente tem que avaliar como viabilizar uma nova força política em Mossoró. A gente precisa amadurecer alguns pontos, defender causas incomuns, ter um alinhamento político capaz de sustentar um projeto eleitoral. Acho que é possível. Acreditamos nisso e vamos trabalhar com esse objetivo.
O seu partido, o Solidariedade, saiu menor das urnas no Rio Grande do Norte. A nível nacional, encaminha fusão com o Pros, o que certamente terá repercussão nos estados e municípios. Qual a posição que o senhor pretende assumir em relação ao Solidariedade?
Eu não conversei ainda com os dirigentes do partido no nosso Estado. Não conversei com o presidente Janiel Hercílio, nem com o deputado Kelps Lima sobre o futuro do Solidariedade. Não sabemos como vai ficar o partido, se o atual grupo vai continuar no partido ou se outro grupo vai assumir o comando. As decisões serão tomadas depois do segundo turno das eleições. Então, vamos aguardar os acontecimentos, depois analisaremos a conjuntura, o novo cenário, e tomaremos uma decisão.
Depois de décadas um prefeito de Mossoró deixa de eleger deputados estadual e/ou federal. O fracasso dos candidatos de Allyson Bezerra reflete a avaliação que o eleitor faz da gestão municipal?
O prefeito sofreu uma derrota histórica. A não eleição de seus candidatos foi uma resposta dura do eleitor. Acho que foi, sim, um reflexo do que a população acha da atual gestão municipal. Temos que observar, também, que grupos tradicionais também sofreram derrota (não eleição de nenhum membro da tradicional família Rosado). No entanto, as consequências são mais duras para o prefeito, para a administração municipal. A derrota que o prefeito sofreu mostra que a popularidade divulgada pela mídia oficial não é a realidade, tanto que ele não conseguiu eleger nenhum candidato. Foi, sem dúvida, uma resposta dura que o eleitor deu através das urnas.
O fato de o prefeito Allyson Bezerra ter se aliado às chamadas oligarquias, que ele condenou na campanha de 2020, pode ter refletido nas eleições deste ano?
Com toda certeza. Ele foi eleito com o discurso contra as oligarquias, mas depois se aliou aos políticos tradicionais. O eleitor deu uma resposta agora. Eu costumo dizer que não adianta a gente ter discurso do novo, mas com as práticas da antiga política. Se você tem um novo discurso, você tem que seguir esse discurso, tem que ter coerência. No caso do prefeito de Mossoró, a prática é bem diferente do discurso. O eleitor percebe isso e dá a resposta no momento oportuno, e foi o que aconteceu.
O prefeito Allyson Bezerra recebeu a autorização da Câmara para crédito suplementar de 78 milhões de reais. Antes já havia remanejado 170 milhões de reais, além dos 25% previstos na lei orçamentária. Isso significa mais de 50% do orçamento 2022. Pode-se dizer que falta planejamento da gestão municipal?
É a completa falta de planejamento e, também, uma forma de inibir a fiscalização da coisa pública. Quando o gestor tem mais liberdade para mexer no orçamento, a fiscalização se torna mais comprometida. Os vereadores independentes e os órgãos de controle passam a ter maiores dificuldades para fiscalizar. Na autorização do novo crédito, no valor de 78 milhões de reais, eu não estava presente à sessão, porque me encontrava em Natal, onde tenho que ir para tratar problemas na coluna. Mas, em créditos anteriores, como o de 170 milhões no primeiro semestre do ano, houve aprovação de forma urgente, por força da bancada governista, não permitindo tempo para termos conhecimento do que estava sendo aprovado. Tudo foi feito às pressas, a gente pediu tempo, pediu para respeitar o regimento de oito dias, mas passaram por cima feito um trator. Então, a gente entende que a questão de crédito suplementar deve ter aprovação evitada na Câmara Municipal, inclusive há recomendação nesse sentido feito pelo Ministério Público, mas prevalece a maioria da Casa, que forma a bancada governista.
Atualmente, dez vereadores são independentes ou de oposição contra 13 governistas. Esse placar apertado pode promover equilíbrio de forças dentro da Câmara?
Isso é possível, sim, pode acontecer, embora, às vezes, eu ache meio improvável, devido à luta ser desproporcional. Mas, não podemos recuar. As bancadas de oposição e independentes precisam ter uma organização, um foco maior, no sentido de fazer o enfrentamento em defesa da cidade, dos serviços públicos, das ações em prol da população. Precisamos fiscalizar mais o Executivo. A questão dos aditivos em obras públicas precisa e deve ser fiscalizada com muito rigor, porque esse é o nosso papel em defesa do patrimônio público. Acho que nessa segunda metade da atual gestão municipal, a Câmara poderá exercer um papel de maior independência para fiscalizar o Executivo.