Amamentação é sempre um desafio. Nem para todas as mamães será um mar de rosas. Nenhuma mãe ama mais ou deixa de amar sua cria porque amamenta ou não. Por mais desafiador e doloroso que possa ser amamentar, muitas vezes não amamentar pode ser a solução para uma puérpera. Cada mãe traz um peso e uma dor.
Entrevistamos duas mães que não conseguiram amamentar. Uma delas não quis se identificar por ter tido muito uma experiência traumatizante.
“Não gosto de exposição porque fui muito julgada por causa disso. Não quis receber visitas, porque todo mundo se metia, pegava nos meus peitos, foi horrível, foi traumatizante. Todo mundo achava frescura, não saia leite de jeito nenhum, minha filha com 9 dias começou a chorar muito, chorou 24h eu me desesperei e levei para o médico. E ouvi ele dizer o que ela tava com fome, que eu ficava insistindo em amamentar e só dá o complemento, mas ela não comia nada, não saía uma gota. Então aumentei a quantidade de fórmula e ela cresceu e engordou e parou de chorar”, diz a mãe.
Quando não for possível amamentar, é preciso reconhecer a possibilidade e os avanços que existem à disposição, bem como todo aparato necessário que possibilitam que eles cresçam bem nutridos.
Entrevistamos também Vitória Kelly, após ter uma depressão pós-parto, se achava uma mãe ruim por não conseguir amamentar.
Kauany: Como foi sua experiência amamentando?
Vitória: Os primeiros 8 dias foram só amor! Mas cada dia que passava ficava um pouco mais dolorido, até que no 10° dia não aguentei! Noah mordia o peito e eu não conseguia colocar o bico e a auréola na boca dele de forma correta. Passou a doer mais e mais. Cresceu uma ferida com pus, sangue e saia a pele do meu seio. Começou a ficar horrível. Eu sentia meu peito encher e Noah chorava com fome, e passei a chorar junto. Sempre que ele sentia fome, eu tremia e chorava horrores! Fui ao médico, que recomendou retirar o leite e dar no copinho até a ferida sarar. Fui ao banco de leite e me orientei. Passado uma semana, peito novo, voltei a amamentar e a tormenta voltou! Sangue, pele, ferida e choro. Entrei em depressão, pois me sentia uma mãe horrível que deixava o filho com fome. Sempre fui pressionada pelas pessoas ao meu redor para que sentisse a dor e amamentasse mesmo assim, pois “amamentar dói assim mesmo”. E, mamães, não é para doer! Amamentar não deve ser um fardo para você. Tem que ser prazeroso e um momento único com seu bebê.
Recebi muito apoio do meu esposo que dizia “desde que nosso filho esteja comendo e saudável, não importa como o leite vai chegar a ele. Damos um jeito.” E a partir daí passamos a comprar o NAN. Após um mês e meio de luta, resolvi desistir e buscar ajuda, pois meu psicológico estava muito abalado! Tive uma forte depressão pós-parto, pois me fizeram acreditar que amamentar é automático, e fiquei me achando uma péssima mãe por não conseguir. Amementei Exclusivamente, 10 dias. Leite materno e NAN, 1 mês e meio.
Kauany: Quais as dificuldades que enfrentou?
Vitória: Para ser honesta, quase não encontrei vantagens! Era difícil aproveitar o momento, pois era uma dor intensa. Só conseguia pensar na dor. Doía lavar o peito, doía a água do chuveiro bater no peito, doía enxugar o peito na toalha, doía usar sutiã, doía não usar sutiã, doía somente encostar no peito. Nem dormir conseguia direito já pensando que ele ia acordar para mamar.
Kauany: Como foi pra você a desistência?
Vitória: O motivo principal foi o abalo emocional. Sempre me fizeram acreditar que é só o beber nascer que naturalmente você saberá amamentar e o bebê saberá mamar. Ninguém me disse que iria doer, que seria difícil. O cansaço nem era difícil comparado a dor emocional de saber que ele não estava comendo direitinho, pois eu esquivava um pouco de tanta dor. Eu só chorava. Ele mamava e eu chorava, ele dormia e eu pensava que ele já ia acordar para mamar e chorava. Tive que parar e buscar ajuda médica, terapia e até medicação para superar a depressão. No início me senti extremamente fraca! Que tipo de mãe opta por dar um alimento de qualidade inferior, podendo dar o melhor alimento do mundo? Eu saia com a mamadeira na rua e as pessoas olhavam e julgavam pois sabiam que ele não estava na idade de tomar mamadeira. Já tive que ouvir que mãe de verdade amamenta! Mas o mundo é cruel e não podemos levar a opinião de NINGUÉM em consideração. Se você opta para dar fórmula, será julgada. Se amamenta em público, também será julgada. Após parar de me importar com isso, de ver a melhora da minha saúde mental, de poder curtir meu filho sem chorar, ele comer e dormir bem, ele estar saudável. Que importa se ele é saudável devido à amamentação ou outro meio? O importante é ser saudável! Eu sei que a amamentação é, sem dúvidas, o melhor alimento do mundo, mas infelizmente nem toda mamãe conseguem e temos que aceitar!
Não me arrependo nem um minuto da minha decisão. Assim como sei que mamães que amamentam amam amamentar. O olhar do seu filho é o mesmo. A ligação é a mesma. Ele estará no seu colo, na sua pele e continuará sendo seu filho e amor de vocês continuará sem incondicional!
Kauany: Deixe uma mensagem para as mamães que como você não conseguirão, ou não conseguiram amamentar.
Vitória: Para as mamães que não conseguiram amamentar, pode parecer que você está sozinha, mas você não está! Você nunca será menos mãe por optar pela fórmula. Você não será menos amada pelo seu bebê por ele tomar fórmula. Mas você será tão julgada quanto uma mamãe que amamenta, porque o mundo tem preconceitos contra nós, mulheres. Não importa sua escolha de alimentação para o seu bebê, só você sabe o que passa! A decisão é SUA e somente SUA. As pessoas irão julgar não importa o que aconteça. Opte pela sua saúde física e mental, pois para o seu bebê estar bem, você precisar estar também!
Ignore os comentários e julgamentos. Pois MÃE DE VERDADE é aquela que ama e opta pelo melhor para ela e para o bebê. Mães DE VERDADE trabalham fora ou optam por ficar em casa, mães de verdade dão a luz normal, cesárea ou por adoção, mães de verdade amamentam ou dão fórmula, mães de verdade amam seus bebês e decidem por si e por ele o melhor para os dois! Não se arrependa da sua decisão. Você nunca será menos mãe por isso.