Reservatório que integra o projeto da Transposição será inaugurado dia 19 pelo presidente Lula e a governadora Fátima Bezerra
A Barragem Oiticica, que o presidente Luís Inácio Lula da Silva e a governadora Fátima Bezerra inauguram nesta quarta-feira (19), não é apenas uma gigante para acumular água, o que já seria muito para uma região em situação de vulnerabilidade hídrica, susceptível ao processo de desertificação. É mais do que isso. É um instrumento importante para a expansão do desenvolvimento do Seridó e resgate da dignidade humana. Esta é a opinião predominante de especialistas, gestores públicos e de moradores da localidade.
Com capacidade para armazenar 742,6 milhões de metros cúbicos de água, a barragem é a principal obra de um projeto maior chamado Complexo Hidrossocial Oiticica, no município de Jucurutu. Além do reservatório, o complexo é formado por Nova Barra de Santana, que abrigava os moradores do Distrito Janúncio Afonso, (conhecido como Barra de Santana), localizado na área inundável da barragem; três agrovilas onde estão sendo assentados pequenos produtores, trabalhadores rurais e sem terras; rede de energia elétrica para uso residencial e produção de cultura irrigadas, e 128 quilômetros de estrada de acesso a estabelecimentos rurais da região.
hectares, abrindo os horizontes para ampliação do desenvolvimento agrário e industrial no interior do Rio Grande do Norte. Isso fomentará a implantação de novas empresas e permitirá que os açudes de Cruzeta, Itans e Sabugi sejam utilizados prioritariamente para piscicultura, irrigação, pecuária e produção de alimentos.
“Com a conclusão de Oiticica atingiremos a maioridade do ponto de vista de segurança hídrica em nosso Estado. Oiticica está interligada à barragem Armando Ribeiro Gonçalves, está conectada com a transposição do São Francisco. Vamos levar água para todas as sedes dos municípios daquela região. E o Seridó será uma das poucas regiões semiáridas do mundo que terá 100% de garantia hídrica”, afirma o secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Paulo Varella. Para ele, o complexo Oiticica tem potencial para inverter o fluxo de saída do pessoal do interior para as grandes cidades. “Eu diria que é um novo momento, uma virada de chave.”
Depoimentos
Morador da Agrovila Raimundo Nonato, a poucos quilômetros da barragem, Francisco Evaldo de Souza tem 45 anos de idade, é casado e pai de dois filhos, um deles o ajuda na luta diária. Sem terra, sem teto, sem emprego, vivendo da pesca e de serviços eventuais na agricultura, enfrentou tempos difíceis. “Cheguei a morar debaixo de uma oiticica com a mulher e os filhos.” Com o passar dos anos, Evaldo conseguiu abrigo na comunidade Carnaúba Torta, localizada na área inundável da barragem, onde vivia da pesca e de serviços eventuais na agricultura. “Fomos criados na areia do rio. Somos daquelas crianças que cresceram sabendo como é a dura realidade da vida”, relata Lázaro Lucas, filho mais velho de Evaldo, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, que planeja fazer um curso técnico na área agrícola para ajudar o pai.
Hoje, a família ocupa o lote 34 da agrovila. Na quadra chuvosa do Semiárido nordestino (fevereiro a maio) ele planta milho e feijão para consumo próprio. Encerrada a colheita, se volta para as culturas de vazante no aceiro de um riacho, braço do Rio Piranhas, onde foi construída, há muitos anos, uma barragem submersa. “Se a vida melhorou pra nós depois disso tudo aqui? Muito!… Chegamos a passar fome, mas hoje temos nossa casinha pra morar e terra para plantar. Antes, a gente dependia da terra dos outros para sobreviver”, afirma Evaldo.
Mecânico autodidata, o jovem Vinícius Santos, 21 anos, também soube aproveitar as oportunidades criadas pela construção do complexo Oiticica. Morador de Nova Barra de Santana, ele montou uma loja de peças e comanda a oficina de conserto de motos. Aprendeu o serviço trabalhando na oficina do irmão, em Caicó. “Só não faço retifica de motor, mas o resto eu dou conta”, explica.
OBRAS SOCIAIS
Complexo Hidrossocial Oiticica
Nova Barra de Santana
Construída para abrigar os moradores da antiga comunidade, que ficava na área inundável da barragem;
503 moradores;
176 casas permutadas;
41 casas populares para trabalhadores sem teto;
33 lotes para construção de centro industrial e de serviços;
Escola, creche, posto de saúde, centro comercialização e quadra poliesportiva;
Agrovila Raimundo Nonato – Jucurutu
Local: Fazenda Lagoinha;
Área: 276,8 hectares;
37 lotes individuais;
Lotes coletivos para cultura irrigáveis e de sequeiros;
A casa construída na agrovila compreende uma unidade residencial
unifamiliar com 58,8 m² de área construída, composta por terraço, sala, dois quartos, cozinha, banheiro e lavanderia externa.
Agrovila Jardim de Piranhas
Local: Fazenda Juazeiro
Área: 303 hectares;
Lotes individuais para 54 famílias
Lotes coletivos para produção agrícola;
A agrovila conta ainda com uma escola e um posto de saúde.
Agrovila São Fernando
Local: Fazenda Ramada;
Área: 130 hectares
Lotes individuais para 24 famílias;
Lotes coletivos para produção agrícola
Outras benfeitorias
125 quilômetros de linha de energia elétrica trifásica;
128 km de estradas para acesso às agrovilas e propriedades rurais localizadas no contorno da barragem;
5,5 km de acesso pavimentado interligando Nova Barra de Santana a RN-118.
Fotos: Humberto Sales, Roberto Sales e Consórcio QS Oiticica.






