Por Amina Costa – Repórter do JORNAL DE FATO
Um assunto muito importante e, infelizmente, não muito conhecido pela população, voltou a ser discutido, após o caso do apresentador Fausto Silva ganhar repercussão. O transplante de coração feito pelo apresentador levantou apontamentos importantes sobre como funciona o processo de doação e a fila de espera para o recebimento do órgão.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. A estrutura, gerenciada pelo Ministério da Saúde, assegura que 90% das cirurgias atendam à rede pública. Em Mossoró, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) é a responsável pela captação de órgãos no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM).
Telma Belém, assistente social da CIHDOTT, informa que, assim como ocorre com o transplante dos demais órgãos, o de coração é feito quando é identificada a morte cerebral do paciente. Ela informa que não existe nenhum preparo diferente para ser realizada a captação do coração. “O coração é retirado na mesma cirurgia em que os outros órgãos são captados, segue uma sequência e ele é o primeiro órgão a ser retirado. Após a retirada ele deve ser transplantado em até 4 horas”, informa.
Em março de 2022, depois de 10 anos sem funcionar, o serviço de transplante de coração foi reativado no Rio Grande do Norte. Do Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró, foram enviados cinco corações, desde a reativação do serviço, dos quais um foi captado já neste ano de 2023. “Lembramos que no Tarcísio Maia nós não fazemos transplantes de órgãos. Aqui, temos a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), que faz um trabalho em relação à captação e doação dos órgãos”, enfatiza Telma Belém.
O Brasil tem uma fila muito grande de pessoas esperando por um órgão para sobreviver. De acordo com a Central de Transplantes do RN, atualmente, um paciente está na fila esperando pela doação de um coração. Alguns dos critérios para a prioridade na fila do transplante são: tipo sanguíneo, peso e a gravidade do paciente. Pacientes que estão usando máquina para a circulação de sangue de maneira externa, coração artificial, drogas vasoativas e estão em hemodiálise, por exemplo, são prioridades.
RETRANCA
O conhecimento sobre o assunto é fundamental para o consentimento das famílias
No HRTM é realizada a captação de múltiplos órgãos em pacientes com diagnóstico de Morte Encefálica, após consentimento familiar. O diagnóstico de Morte Encefálica é fundamental no processo de doação de órgãos, tendo em vista que alguns órgãos necessitam ser retirados antes da parada cardíaca para poder viabilizar o transplante. A Morte Encefálica significa a parada de todas as funções do cérebro, sendo, portanto, permanente e irreversível.
Para que não ocorram dúvidas, o diagnóstico somente é confirmado após a realização do Protocolo de Morte Encefálica, estabelecido por meio de Resolução do Conselho Federal de Medicina, no qual é composto por três exames, dos quais dois são exames clínicos feitos por médicos diferentes, em intervalos de tempo determinados de acordo com a faixa etária do paciente, e um exame complementar, (no HRTM é realizado um Eletroencefalograma), que confirme a inexistência total de atividade cerebral.
Após a confirmação, a equipe da CIHDOTT realiza uma entrevista familiar, para saber se os seus membros são favoráveis ou não à doação dos órgãos do seu ente querido. A autonomia da família é totalmente respeitada.
São atribuições das equipes da CIHDOTT:
• Realizar busca ativa dos pacientes graves, com diagnóstico de AVC, TCE e outras situações que evoluam para coma.
• Articular-se com a Equipe Médica do Hospital para a abertura de Protocolo de Morte Encefálica.
• Acompanhar e orientar a família dos potenciais doadores durante a realização do protocolo de Morte Encefálica.
• Após fechamento do protocolo de ME, realizar entrevista familiar para doação de órgãos, em ambiente adequado e de forma humanizada.
• Articular-se com a OPO- Organização de Procura de Órgãos e CET- Central Estadual de Transplante, após consentimento familiar, para a realização da captação de órgãos no Hospital.
• Organizar toda a logística, dentro do Hospital, para a realização da captação de órgãos.
• Acompanhar a equipe de captação de Órgãos e orientar familiares dos doadores, durante todo o processo de doação de órgãos.
• Realizar atividades de orientação/treinamento com os profissionais das diversas categorias, que estiverem no plantão.
• Fazer palestras com os profissionais do Hospital sobre a temática Transplante e Doação de Órgãos.
• Desenvolver atividades educativas para a comunidade sobre a temática doação de órgãos.