A Mossoró de quatro jornais impressos diários dá lugar à mídia digital que cresce na busca pela notícia imediata
Nos últimos anos, a internet tem sido o veículo de comunicação mais procurado para o acesso à informação. Textos, vídeos e áudios, ou tudo isso ao mesmo tempo, têm deixado a comunicação cada vez mais ao alcance de quem a busca, esteja onde estiver, na hora que quiser, com conteúdos para todos os gostos e interesses, que atraem as pessoas principalmente pelo imediatismo.
O jornalismo digital tem representado uma verdadeira revolução no modelo de produção e distribuição das notícias. Se olharmos para o cenário local, no município de Mossoró, o papel vem cedendo lugar a impulsos eletrônicos há cerca de dez anos, fato este que, assim como no resto do mundo vem fazendo com que os veículos de mídia impressa saiam de cena e deem lugar aos clicks que trazem a notícia cada vez mais rápido ao interesse dos leitores.
No domínio da informação – Mossoró já esteve no domínio da notícia no Rio Grande do Norte, principalmente na Região Oeste do Estado com quatro jornais impressos diários, eram eles: o centenário Jornal O Mossoroense, a Gazeta do Oeste, o Jornal de Fato e o Correio da Tarde, além de muitos outros periódicos que circularam na capital do oeste potiguar.
A partir da implantação do webjornalismo, no qual a atualização das notícias pode ocorrer ininterruptamente, já não era preciso esperar o jornal que sairia no dia seguinte e estes foram perdendo cada vez mais força comercial, saindo de cena um por um. A cidade conta hoje com a mídia impressa representada apenas pelo Jornal de Fato.
Para o jornalista e professor do curso de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Esdras Marchezan, os donos de jornais impressos não acreditaram de início no poder da mídia digital.
“No momento em que se inicia a crise dos jornais impressos, não uma crise no jornalismo, mas uma crise nas plataformas impressas, isso se deu porque os veículos de comunicação demoraram a enxergar o potencial de internet e o impacto que ela teria nos veículos de comunicação, quanto negócio”, destacou Esdras.
O professor lembra que Mossoró possui hoje apenas um veículo impresso, sendo uma cidade que já se destacou pela quantidade de periódicos que tinha em circulação.
“Hoje temos cada vez mais iniciativas jornalísticas que estão na internet e menos plataformas impressas. Ao mesmo tempo nós assistimos o surgimento de diversos canais de comunicação no espaço da internet: portais, blogs, iniciativas independentes de jornalistas. Isso tende a ser cada vez mais comum, sejam portais, produtoras de podcasts, de conteúdo para YouTube, ou mais iniciativas jornalísticas de pequeno porte”, acrescentou.
Para Marchezan, os surgimentos de novas mídias digitais são oportunidades para profissionais e para a informação como um todo.
O único ainda impresso: Jornal de Fato
O diretor do Jornal de Fato, César Santos, também destacou o fato de que Mossoró chegou a contar, em tempo recente, com quatro jornais impressos. Três deixaram de circular, sendo que um continua na ativa por meio eletrônico, que é o centenário O Mossoroense. O JORNAL DE FATO, lançado no cenário mossoroense no ano 2000, é o único presente diariamente em Mossoró e em mais de 80 municípios potiguares de forma impressa.
“Penso que as empresas que fecharam há cinco ou seis anos sentiram muito mais a crise econômica, que afetou o país no início da década passada, do que propriamente o advento das plataformas eletrônicas. A gestão financeira teve um protagonismo naquele momento. Para se ter ideia, enquanto cinco jornais impressos deixaram de circular em todo o país, incluindo os três de Mossoró, mais de 1.100 concessionárias de veículos fecharam as suas portas no mesmo período (entre 2014 e 2016). As pessoas deixaram de gostar de carro? Não. As pessoas não tinham dinheiro para comprar ou trocar de carro. É interessante observar que quando a Gazeta do Oeste e o Correio da Tarde encerraram as suas atividades e o Mossoroense se transferiu 100% para o online, ainda era tímida a busca de notícias por meio das plataformas online. No entanto, não se pode desprezar a influência da mídia eletrônica no comportamento dos impressos”, ressaltou o jornalista.
Para ele, o grande desafio no Brasil é manter uma empresa aberta, principalmente de pequeno porte, seja na comunicação e/ou qualquer outro segmento econômico. “Esse é o ponto crucial. É bom pontuar que a concepção de “veículo impresso” deixou de existir. Hoje temos empresa de comunicação, que faz a convergência de todas as mídias. Por exemplo: o JORNAL DE FATO pode ser lido no impresso ou no site defato.com, e as nossas notícias são potencializadas nas redes sociais. Podemos produzir vídeos, por meio de nosso canal no YouTube, ou matérias de rádio no portal. Então, o nosso grande desafio, primeiro, é gerenciar e manter aberta uma empresa que gera emprego e renda; e, depois, é promover a convergência das plataformas dentro do mesmo veículo de comunicação”, continuou.
César Santos destaca a internet como universo sem limite, e que por isso, muitos confundem como “terra sem lei”, onde pode cometer todo tipo de atrocidade sem ser punido.
“E não é isso. Não devemos julgar as novas plataformas porque elas permitem que pessoas desqualificadas usem de maneira criminosa. Essas pessoas, de pouca ética, já faziam isso, por (mau) exemplo, no rádio, na televisão e no jornal. Portanto, o problema são pessoas e não as mídias. Precisamos entender a internet nas mãos de veículos e jornalistas responsáveis, éticos, comprometidos. Trata-se de uma ferramenta espetacular de propagação da boa notícia, da formação da opinião, do trabalho social, etc. Veja que antes o JORNAL DE FATO só oferecia o acesso ao impresso, e hoje temos leitores em toda a parte do País, e mossoroenses que residem em qualquer parte do mundo, lendo a nossa notícia pelo defato.com. Isso é espetacular”.
Escola para muitos, a Gazeta esteve no mercado da informação por 38 anos
Sendo o segundo jornal diário mais antigo de Mossoró, a Gazeta do Oeste fechou suas portas em 04 de janeiro de 2016. A decisão foi anunciada nesta data aos funcionários, em reunião com o corpo diretivo, e em seguida aos colaboradores e leitores, que souberam através de comunicado oficial no site do jornal. O motivo justificado foi a questão financeira.
A Gazeta do Oeste foi e ainda é tida como escola para muitos jornalistas, estando no cenário jornalístico de Mossoró e do Rio Grande do Norte por 38 anos. O fechamento do veículo não esconde a sua trajetória de sucesso como um dos principais meios de comunicação do Estado e da Região Nordeste, formador de opinião e incentivador do surgimento de outros veículos.
O periódico ensinou e formou profissionais para o jornalismo, para o colunismo social e pautou o cotidianos dos seus leitores desde o seu lançamento até o seu fechamento. As famosas e polêmicas colunas de Canidé Queiroz fizeram história no meio político. O jornal ainda despontou com diversas produções em todas as áreas da informação.
“O sonho da Gazeta foi uma ousadia de Canindé Queiroz, incentivada por Padre Sátiro. A influência desse jornal independente, foi muito propicia à manifestação de uma miscelânea de ideias daqueles que até então não tinham como nem onde expô-las. Diria que a maior conquista foi ser o embrião para a criação da Faculdade de Comunicação Social da UERN. Os que faziam a Gazeta do Oeste não tinham formação superior na área, mas possuíam garra e inteligência para a arte da escrita”, destacou Maria Emília Pereira, ex-diretora da Gazeta do Oeste.
Segundo ela, o principal fator foi financeiro, pois faltava publicidade e assim se tornava impossível concorrer com rádio, TV e internet. “Muitas vezes colocávamos os nossos salários, de Canindé e meu, para custear as despesas com material e funcionários”, relatou Maria Emília.
Porta aberta para novos meios de comunicação pela web
Nesta proposta da notícia pela web surge, a parte desta terça, 20, o portal Mossoró OnLine, idealizado e composto por jornalistas interessados em levar até o webleitor textos bem trabalhados, notícias de credibilidade e com seriedade. A nova plataforma estará no ar com colunas de conteúdos diversificados, assinadas por nomes já conhecidos no cenário local, matérias especiais e cotidianas, com o compromisso de somar na propagação da informação de qualidade.
“Cada vez que surge um novo portal com uma proposta exequível, inovadora, séria, é motivo de comemoração. De certa forma é uma oportunidade que se abre para o mercado de jornalismo, novos postos de trabalho para os jornalistas e uma possibilidade que se abre de um novo canal de informação para a população em geral. Em uma democracia, quanto mais canais de informação trabalhando de forma séria, melhor para que o cidadão e a cidadã possam se informar melhor”, concluiu o professor Esdras Marchezan.