Deputado Beto Rosado tomou o “Cafezinho com César Santos”. Ele avalia o que contribuiu para a sua não reeleição, fala de projetos que vai tocar a partir do próximo ano e do seu futuro político. Ele poderá ser candidato a prefeito nas eleições 2024?
Por César Santos / Jornal de Fato
Com mais de 83 mi votos, o deputado federal Beto Rosado (Progressistas) foi o quinto mais votado no Rio Grande do Norte nas eleições de 2 de outubro, mesmo assim, não ficou entre os oito eleitos. Seu partido não cumpriu a regra do quociente eleitoral.
A não reeleição de Beto não se traduz apenas em prejuízo político para o parlamentar e seu grupo, mas, principalmente, para Mossoró. A partir de 1º de fevereiro de 2023, quando Beto Rosado concluir o mandato, a cidade deixará de ter um legítimo representante na Câmara Federal após quase oito décadas.
Na sexta-feira, 18, Beto tomou o “Cafezinho com César Santos”. Ele avalia o que contribuiu para a sua não reeleição, fala de projetos que vai tocar a partir do próximo ano e do seu futuro político. Ele poderá ser candidato a prefeito nas eleições 2024? Leia a entrevista e encontre a resposta:
O senhor foi bem votado, mais de 83 mil votos, mas não foi suficiente para renovar o mandato, uma vez que o seu partido não alcançou o quociente eleitoral. Qual é o sentimento que fica nesse momento que se aproxima de o senhor concluir o mandato em Brasília?
Não estamos decepcionados, mas é claro que estaríamos melhor se o resultado das urnas fosse outro, se nós tivéssemos renovado o mandato. Mas, digo com muita tranquilidade, a minha satisfação é muito grande com a missão que estamos cumprindo na Câmara, que é repleto de conquistas que nós trouxemos para Mossoró e o Rio Grande do Norte. Posso afirmar que nós tivemos uma atuação importante para o desenvolvimento do nosso estado, principalmente nas cadeias produtivas e na garantia do emprego para o povo potiguar. Só essas cadeias produtivas, acredito, nosso mandato beneficiou mais de 300 mil famílias. Então, repito, de forma muita tranquila me sinto satisfeito e com a sensação que o nosso mandato está cumprindo o seu papel em favor do povo potiguar.
Nos dois mandatos na Câmara, o senhor beneficiou Mossoró com mais de 70 milhões de reais, mas o eleitor mossoroense não reconheceu as suas ações como o senhor esperava. A sua votação na cidade foi de pouco mais de 11 mil votos em um universo de 183 mil eleitores. O senhor sente-se frustrado?
De forma nenhuma. Primeiro, eu quero agradecer aos mais de 11 mil eleitores mossoroenses que escolheram o nosso nome nas urnas, sou muito grato, assim como sou grato a toda Mossoró que me deu dois mandatos de deputado federal. Agora, eleição é estratégia, de certa forma não importa a quantidade de benefícios que você traz para a cidade, região ou estado. Eu costumo citar o exemplo do grande líder (Winston Churchill), que liderou os Aliados para vencer a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, mas perdeu as eleições britânicas (para o Partido Trabalhista, em 1945). Então, provavelmente foi um erro de estratégia eleitoral que cometemos. Mossoró é a minha terra, é a cidade mais beneficiada pelo nosso mandato através das nossas ações, das nossas emendas parlamentares, do nosso trabalho. A população reconhece isso, mesmo que a nossa votação não tenha sido a esperada. No entanto, isso não nos deixa frustrado. Vamos continuar trabalhando por Mossoró e o Rio Grande do Norte.
O senhor, então, acha que a votação, digamos, tímida em Mossoró foi um erro de estratégia? Como assim?
Ampliamos a nossa base eleitoral em outras regiões, optamos por fazer uma campanha, a busca pelo voto, muito mais fora do que dentro de Mossoró. Eu não fiz mais do que cinco visitas aos bairros de Mossoró no período eleitoral, porque acreditamos que a cidade já conhecia a nossa ação parlamentar e isso, por si só, seria suficiente para recebermos boa votação. Achei que como qualquer político ou qualquer cidadão de bem que trabalha por sua cidade haveria um bom reconhecimento do nosso mandato. De certa forma, nas caminhadas que fiz em Mossoró o povo deu notícia, sim, do nosso trabalho, do nosso esforço, das nossas ações em benefício da cidade. Distribuímos um material bem informativo, publicizamos o nosso mandato e acredito que o povo de Mossoró hoje sabe que não existe na história da nossa cidade um deputado federal que tenha se empenhado tanto em garantir recursos e obras como o deputado Beto Rosado.
O senhor, então, acha que se tivesse optado por uma concentração maior de sua campanha em Mossoró o resultado seria outro?
Não posso falar por aquilo que não aconteceu. O que entendo é que houve um erro de estratégia. Poderia ter realizado uma campanha mais presente em Mossoró, como fizeram os meus concorrentes. Acho que as pessoas teriam dado uma resposta mais positivas à nossa postulação, reconhecendo os recursos que trouxemos e que está beneficiando a infraestrutura com pavimentação e calçamento de ruas, construção e reformas de unidades de saúde, ambulâncias para o SAMU, reformas de praças, entre tantas outras obras e ações garantidas pelo nosso mandato que beneficiam diretamente as famílias mossoroenses.
Deputado, Mossoró vai deixar de ter um representante em Brasília após mais de sete décadas. O que isso representa e quais consequências serão sentidas pelo povo mossoroense?
É inimaginável uma cidade do porte de Mossoró, a segunda maior do Rio Grande do Norte, a mais importante do interior do estado, não ter um representante legítimo na Câmara ou no Senado. Imagine se não fosse o nosso mandato de oito anos, mais de 70 milhões de reais em obras não teriam acontecido. Veja a importância de todos os deputados federais de Mossoró para o desenvolvimento da cidade. Vou citar um exemplo: Mossoró é a cidade que tem o maior crescimento vertical do estado, com dezenas de prédios residenciais e comerciais, mas isso só foi possível com a ampliação do sistema de saneamento básico. E as obras de saneamento só foram realizadas porque deputados da cidade lutaram por recursos federais em Brasília. O mandato do ex-deputado Betinho (Rosado) foi responsável pela captação de recursos que garantiram 60% das obras de saneamento básico. Foram os deputados federais de Mossoró que garantiram recursos, via emendas parlamentares, que beneficiaram áreas vitais como saúde, sociais, infraestrutura e cultura. Então, Mossoró não vai ter mais essa representação. Esperamos que os parlamentares eleitos do Rio Grande do Norte possam olhar para Mossoró como nós olhamos. Que venham conhecer a realidade do nosso povo e fazer um gesto de gratidão pelos votos que aqui receberam.
Após concluir o mandato, em 1º de fevereiro de 2023, o que senhor pretende fazer, quais são os objetivos traçados?
Ainda estamos reorganizando os nossos objetivos pós-mandato, até porque ainda é tudo muito recente. Mas, uma certeza que temos, no plano pessoal, é que retomaremos as nossas atividades na iniciativa privada. Antes do mandato, eu estava iniciando um processo de produção na área da fruticultura irrigada, pretendo voltar para a fazenda, como também deverei ajudar nos negócios da família que precisam ser revitalizados. São áreas que eu posso ser útil, que eu gosto e que terão a minha dedicação após concluir o mandato na Câmara.
E os projetos políticos?
As atividades na iniciativa privada não me afastarão da política. Vou continuar no cenário político, principalmente de Mossoró. Nesses oito anos de mandato, criamos uma base, fizemos parcerias importantes, construímos amizades e uma relação muito boa com os eleitores. Temos também boas relações em Brasília que serão mantidas e até fortalecidas. Eu vou continuar mantendo essa relação com o povo do Rio Grande do Norte, com o povo de Mossoró, porque a boa política pode e dever ser feita independente de mandatos.
O senhor, então, pode ser candidato nas próximas eleições municipais, em 2024?
Ainda é cedo para falar sobre a próxima ou futuras eleições. Mas, se vou continuar na política, ser candidato no futuro é uma possibilidade. Como disse anteriormente, nós temos serviços prestados a Mossoró. Nenhum deputado na história trouxe mais recursos para Mossoró do que o nosso mandato. Temos ações para mostrar ao povo de nossa cidade, temos como colocar isso para o debate com a sociedade. Agora, não existe candidato de si mesmo. É preciso discutir isso com o povo, com a sociedade, com grupos políticos. Portanto, entendo que ainda é cedo para falar sobre candidatura minha nas próximas eleições, mas, repito uma máxima popular que diz: “nunca diga: dessa água não beberei”.
O senhor falou que um projeto político e eleitoral precisa dialogar com a sociedade, com o povo, então, de que forma o senhor pretende abrir esse diálogo para uma eventual candidatura nas próximas eleições?
Como? com calma. Não estamos projetando candidatura nesse momento, ainda é muito cedo para fazer afirmação sobre isso. Agora, política é a arte de conversar, dialogar, somar. Vamos fazer isso, visitar os amigos, as lideranças, as comunidades, debater junto com eles os problemas que afetam a cidade e as demandas que devem ter prioridades. Vamos ampliar a nossa visão do que é ser um gestor numa cidade da importância de Mossoró, por exemplo, para atender os anseios do povo. Acho que o povo não merece um prefeito das redes sociais, da exploração midiática e que pouco faz pela cidade.
O senhor está se referindo ao prefeito Allyson Bezerra? O senhor acha que ele se resume a um personagem potencializado pelas redes sociais?
O prefeito aparece muito nas redes sociais, na mídia, mas as ações e obras que beneficiam Mossoró têm origem ou nosso mandato ou no Finisa. É só observar que as obras concluídas ou em andamento de infraestrutura como pavimentação de ruas e avenidas, construção e reforma de praças, das unidades básicas de saúde, nas áreas da educação e cultura têm recursos de nossas emendas parlamentares ou do Finisa. São recursos federais conquistados por nosso mandato. Isso o prefeito não diz, ele prefere assumir a paternidade que não é dele. Veja, o que é arrecadado pela Prefeitura, com o FPM (Fundo de Participação dos Municípios), receita própria e de outras fontes como royalties de petróleo, é suficiente apenas para mandar a máquina em funcionamento. Não fosse os recursos que o nosso mandato trouxe para Mossoró e os recursos do Finisa, não havia obras na cidade.
Quer dizer, então, que a gestão municipal não faz o dever de casa para ter recursos próprios para investimentos?
Nós precisamos de uma gestão que enxugue essa máquina, que possa ter autonomia financeira para cumprir as demandas reclamadas pela população. É preciso colocar a máquina pública em favor das pessoas em geral e não apenas daquelas que estão nos cargos comissionados da Prefeitura. Esse debate precisa ser estabelecido, ele vai além das ações midiáticas e das redes sociais.
Deputado, se não fosse os recursos de seu mandato e do Finisa, como seria Mossoró hoje?
Seria uma cidade sem nenhuma obra de pavimentação de ruas e avenidas, porque todas elas são bancadas por emendas do nosso mandato e do Finisa. Seria uma cidade sem reforma das praças, das Unidades Básicas de Saúde, sem a recuperação na Praça da Convivência, do Memorial da Resistência, do Teatro Municipal, da Estação das Artes. Seria uma cidade sem novas unidades do SAMU. Estou elencando obras de nossas emendas parlamentares e do Finisa, que o prefeito não cita e assume como se tivesse sido ele o autor. Mossoró precisa de um gestor que seja do diálogo, que saiba respeitar os outros, que busque parcerias no âmbito dos governos estadual e federal e que possa garantir que Mossoró volte a ser vista no mapa do Brasil, como foi no passado recente.
É esse debate que o senhor pretende estabelecer dentro do processo sucessório de 2024?
É um debate que a sociedade precisa ter, precisa participar. Precisamos levar esse debate para as mais diferentes camadas de nossa sociedade. Todas as pessoas precisam ser envolvidas e se envolverem nas ações do poder público, porque é o poder público que tem a obrigação de executar todas as demandas. É isso que nós buscaremos dialogar com a sociedade mossoroense. É assim que o meu mandato trabalha, dialogando, buscando entender o que é melhor para as pessoas, e só um mandato participativo pode alcançar e atender os anseios da sociedade. A atual gestão municipal é distante dessa realidade, caminha separada de setores importantes de nossa cidade. Temos hoje empresários mossoroenses que não têm seus serviços contratados porque não são amigos do rei. Enquanto isso, vêm empresários de fora para fazer serviço em Mossoró. Por gravidade, prejudica toda a uma rede econômica que acaba penalizando mais o povo mais necessitado. Essa é a realidade, que é muito ruim, precisa mudar.