César Santos/Defato.com
Vai daqui um alerta: estão “sangrando” o Estádio Nogueirão para justificar a venda – via permuta – do patrimônio público e do futebol mossoroense. Que o alerta abra os olhos das autoridades responsáveis pela preservação do bem público e que possam ficar de sentinela para evitar o mal.
A estratégia é a mesma usada pelo ex-prefeito Silveira Junior, que, felizmente, não vingou: municipalização, abandono do estádio, repercussão na imprensa e, em seguida, a proposta de permuta para “beneficiar” Mossoró com um estádio de futebol novinho em folha.
Daí imagina-se que os desportistas influenciarão todos os outros segmentos da sociedade para aceitarem a permuta, sem observar o tamanho da importância do Estádio Municipal Manoel Leonardo Nogueira, sob o ponto de vista histórico e econômico.
Você, leitor, tem ideia quanto vale um quarteirão inteiro do concorrido e valorizado bairro Nova Betânia? Imaginem esse patrimônio ser transferido para um gigante do mercado imobiliário, quanto renderia ao bolso de alguns… A contrapartida, que seria construir um estádio em área afastada do perímetro urbano, teria valores bem modestos.
A estratégia de “sangrar” foi iniciada com a municipalização do estádio, oficializada em 2021, e ficou bem nítida há poucos dias, nas imagens que correram o mundo do futebol de um torcedor enterrando a perna em buraco na arquibancada do Nogueirão. A repercussão foi imediata e deu sustentação ao discurso de governistas e aliados em defesa da permuta.
Esse discurso ganhou ainda mais força com a interdição do estádio, por ordem do Corpo de Bombeiros respaldada pelo CREA-RN. O estádio sequer tinha os laudos obrigatórios, uma vez que a gestão municipal “atrasou” a entrega. Tudo medido à régua e compasso.
Passo seguinte, explorar a indignação do torcedor por não ter um estádio para assistir o seu time de coração. No caso, o Potiguar teve que levar o seu jogo deste domingo, 9, contra o Globo, pela fase de grupos do Brasileirão da Série D, para o Estádio Frasqueirão, em Natal. A diretoria alvirrubra reclama um gasto de R$ 16 mil só neste jogo.
Com a conta salgada, torcedor revoltado e a repercussão midiática, a proposta da permuta ganha força. Os menos esclarecidos embarcam afirmando que se a Prefeitura de Mossoró não tem dinheiro para recuperar o Nogueirão, o melhor é fazer a permuta.
Só que o município tem dinheiro farto para bancar a obra de reconstrução do estádio. O contrato de crédito com a Caixa Econômica Federal (CEF), assinado há duas semanas, tem valor de R$ 200 milhões, sendo que R$ 80 milhões serão liberados agora em 2023 e R$ 120 milhões em 2024. Os recursos são para bancar obras do “Mossoró Realiza”; nesse caso, basta colocar o Nogueirão na lista do projeto.
Essa é uma decisão simples do Executivo, que nem precisa do aval do Legislativo. Mas, se precisasse, a gestão municipal conta com a fidelidade de 16 dos 23 vereadores que compõem a Câmara Municipal de Mossoró. Só enviar o projeto para ser aprovado. Aliás, na última quarta-feira, 7, a bancada governista aprovou um crédito especial de R$ 25 milhões sem sequer analisar o projeto do Executivo. Portanto, sem dificuldades.
Resta, então, o povo de Mossoró ficar vigilante para preservar o seu patrimônio. E que as autoridades responsáveis pela fiscalização e zelo da coisa pública não permitam que o Estádio Municipal Manoel Leonardo Nogueira desapareça pelo buraco.
FRASE
“Sou o maior goleador do Nogueirão, e se fizesse uma permuta, isso acaba”
CÍCERO RAMALHO – Ex-jogador, ídolo do torcedor e maior goleador da história do Nogueirão