Vereador Pablo Aires saiu fortalecido das urnas 2022 e o seu nome é visto com possibilidade de disputar a Prefeitura de Mossoró em 2024. No Cafezinho com César Santos, ele responde se pretende ser candidato a prefeito. Também avalia o cenário atual
Por César Santos / Jornal de Fato
As urnas do dia 2 de outubro mandaram um recado contundente à política tradicional de Mossoró. Nenhum candidato apoiado pela máquina pública municipal e por grupos familiares conseguiu se eleger. A cidade que ostenta o segundo maior colégio eleitoral do Rio Grande do Norte, por exemplo, deixará de ter um deputado federal a partir de 2023, após sete décadas. E a única representante na Assembleia Legislativa, Isolda Dantas (PT), não pertence aos grupos tradicionais.
Em contrapartida, o eleitor fortaleceu jovens políticos que se estabelecem com novo modelo de fazer política. O vereador Pablo Aires (PSB) é um dos exemplos. Ele surpreendeu com a sua votação a deputado federal, embora não tenha sido eleito. Pablo foi o segundo candidato com maior número de votos em Mossoró. No Estado, ele foi votado em 144 municípios, com destaque para a região Oeste. Por gravidade, ele foi alçado a um dos nomes prováveis à sucessão municipal de 2024.
No Cafezinho com César Santos deste domingo, 16, Pablo Aires não descarta uma candidatura a prefeito, mas também não assume o projeto, ressaltando que ainda é cedo para discutir a sucessão do prefeito Allyson Bezerra. Ela apresenta um diagnóstico sobre o novo momento da política mossoroense, afirmando que o eleitor decidiu fazer a mudança que julga necessário. Leia:
O senhor teve a segunda maior votação em Mossoró para deputado federal, com quase 12% dos votos válidos, mesmo disputando as eleições em faixa própria, sem apoio das grandes estruturas. Qual a leitura que essa votação expressiva oferece?
Considero essa votação que tivemos em Mossoró, 15 mil votos, uma grande vitória. Participar dessa campanha eleitoral não foi fácil, principalmente quando entendemos a proporção que uma candidatura a deputado federal toma, sem grande estrutura, sem grupo político tradicional por trás e nem padrinhos políticos. No estado todo tivemos 21.996 votos em 144 municípios. Então interpreto como muito positivo esse resultado, e, na nossa leitura, há um recado político da população nessas eleições. Um recado de quebra daquela visão, antes incontestável, de que os prefeitos mandam nos votos dos eleitores. Percebemos que as pessoas estão buscando cada vez mais alternativas e candidaturas conscientes, baseadas em propostas. Ainda há muito a ser feito nessa conscientização, mas os resultados dessas eleições mostram essa vontade.
É possível afirmar que a aceitação do seu nome e, também, do vereador Tony Fernandes, que foi o segundo mais votado em Mossoró para deputado estadual, representa uma mudança de cenário da política local, já que os grupos tradicionais não se saíram bem das urnas?
Mossoró deu uma expressiva votação para os candidatos que não estão com a prefeitura e nem são de grupos tradicionais como os Rosado. Para nós, fica claro que há uma necessidade de uma alternativa que não seja de nenhum desses grupos. E, para mim, fica mais claro ainda a necessidade de mudança no perfil dos candidatos. Não é à toa que os candidatos que tiveram maior expressão eleitoral dentro de Mossoró são, além de oposição, nomes novos na política e que, na maioria dos casos, desenvolvem uma política mais próxima da população.
Vimos que você teve uma boa votação no Oeste do estado. Como foi apresentar o seu projeto político nesta região?
Impressionei-me com a nossa expressiva votação na região Oeste, principalmente em algumas cidades como Baraúna, que tivemos 1.444 votos, Areia branca, que tivemos 625 e Governador Dix-Sept, que passamos dos 500 votos. Sou bastante grato às pessoas que se juntaram a nós nesse processo, nossa campanha foi construída organicamente, e a quantidade de adesão que tivemos em cidades aqui da região se refletiu nas urnas. Tivemos que lidar com a pouca estrutura e não conseguimos viajar o tempo todo, então boa parte da campanha nessas cidades foi tocada por pessoas que se juntaram a nós durante o processo eleitoral. Sempre que íamos às cidades éramos bem recebidos, principalmente aqui pela região oeste. Acho que a principal característica das pessoas que se juntaram a nós na campanha era a qualificação. Todo mundo tinha vontade não só de participar, mas de construir o projeto conosco, e acredito que é isso que deu força à campanha: o projeto foi coletivo.
O fato de o prefeito Allyson Bezerra não ter conseguido eleger os seus candidatos – Jadson e Lawrence Amorim – também reflete mudança de humor do cidadão eleitor? Ou é apenas um contraponto da propaganda de aprovação popular feita pela mídia oficial?
Olha, avalio é que é inegável que houve uma derrota histórica, parafraseando com a palavra mais utilizada pelo prefeito Allyson sobre seus feitos. Ele entra para a história de forma negativa, pois os mossoroenses sequer têm memória de um prefeito que não elegeu seus deputados. Isso não acontecia desde 1947. O que fica evidente pra mim é que a avaliação do prefeito não foi suficiente para eleger seus candidatos, principalmente para estadual que estava mais ao alcance diante de todo o esforço que o prefeito fez nas cidades onde passou, com a estrutura de um município do porte de Mossoró.
Com o novo cenário extraído das urnas 2022, há possibilidade de surgir um novo grupo ou uma terceira força da política mossoroense conduzida por jovens políticos, como o senhor e o seu colega vereador Tony Fernandes?
Acho que podemos dizer que esse grupo já surgiu. Claro que, num outro formato, diferente do que já existe dentro do cenário político mossoroense. Durante muito tempo a política de Mossoró foi dominada por grupos e/ou famílias, e não é dessa forma que se organiza a política em grandes cidades hoje. O que está acontecendo em Mossoró é o que acontece há algum tempo em muitas outras cidades: as lideranças políticas agora se consolidam de forma independente. O resultado dessa eleição é claro em nos mostrar qual o perfil político que o eleitor prefere. As novas forças políticas que surgem depois dessa eleição são, antes de novos políticos, políticos com novas práticas. Tanto eu quanto Tony, apesar de não estarmos no mesmo grupo político, lutamos pela mesma forma de fazer política, e o resultado das urnas nesta eleição apontou que estamos no caminho certo.
A partir de sua boa performance nas urnas, embora não tenha conquistado o mandato de deputado federal, o senhor pretende se projetar para disputar a Prefeitura de Mossoró em 2024?
O resultado dessas eleições nos mostrou a aceitação do nosso projeto e ampliou a nossa representatividade na Câmara Municipal. Sei que as pessoas querem que imediatamente já se fale em disputa ao Executivo, mas avaliamos que essa discussão, que é importante, não deve ser descartada, pois os cenários na política mudam muito rapidamente, não deve ser feita nesse momento. O primeiro turno foi encerrado agora, ainda estamos seguindo para o segundo turno, o resultado é muito recente e de minha parte, só senti o aumento da responsabilidade em relação ao nosso trabalho como vereador. A gente fazia um trabalho como vereador eleito por um grupo de pessoas com 1.856 votos e hoje, recebendo 15 mil votos, temos consciência de que a responsabilidade é bem maior. Precisamos ampliar o trabalho na Câmara de Mossoró, com mais fiscalizações, com o trabalho que temos feito de não precisar ser subserviente à prefeitura, criar legislação que atenda aos anseios da população, ou seja, todas as funções do vereador.
A sua atuação como vereador, e até antes do mandato, reforça pautas que políticos tradicionais não visitam, como a causa animal, a defesa da comunidade LGBTQI+, da pessoa autista, entre outras. É essa nova política que está despertando a população?
Com certeza. Não à toa decidimos fazer uma campanha com o slogan “todas as vozes”. Cada vez mais a pluralidade das minorias carece de representação nas diferentes instâncias de poder, e as causas são importantes. Percebo que as pessoas apoiam projetos que estão ancorados nas causas que não encontram respostas em políticas públicas permanentes.
Mesmo com atuações de vereadores que se afastam da postura tradicional, a Câmara de Mossoró continua sendo um “puxadinho” do Executivo. Por que é tão difícil interromper esse histórico de subserviência do Legislativo?
A dificuldade de romper com esse modelo de subserviência está no tempo que esse processo teve para se consolidar nas práticas políticas de Mossoró. Isso acontece há décadas. Felizmente, o perfil do eleitor mudou, e a composição da Câmara está começando a mudar também. Os ganhos que tivemos já nesta legislatura para garantir a autonomia da Câmara, mesmo com poucos mandatos aguerridos nessa luta, são imensos. Romper com essas práticas leva tempo, mas estamos no caminho para isso.
Os vereadores independentes podem equilibrar as forças no Legislativo, a ponto de estabelecer uma atuação dentro do que se espere da Casa?
Temos tentado, viu?! Mas não é tão simples e nem tão rápido assim. Nossa atuação independente não tem uma ação corretiva no funcionamento da Câmara, sempre vai existir esse embate de forças (práticas) e tende a ser sempre desregulado pelo assédio do executivo. Isso é natural à composição da nossa estrutura democrática. Nossa luta hoje é para garantir que, independentemente da posição dos vereadores, a Câmara possa atuar de forma autônoma.
Para concluir, o eleitor vai votar em 2024 para a reeleição do vereador Pablo ou para prefeito Pablo?
O que posso garantir neste momento é que, independente do cargo, estarei à disposição do eleitor para construir um projeto coletivo que fortaleça Mossoró. A campanha de 2022 mal acabou, ainda temos mais da metade do mandato para cumprir. Não podemos pensar política de forma deslocada, precisamos de bons vereadores e um bom prefeito. O cenário político é muito volátil e a situação de hoje na política de Mossoró não será a mesma de 2024. O cálculo que fazemos hoje é para garantir que continuaremos fazendo um trabalho coerente pela cidade, independente do lugar em que estaremos.